Conspiração
10 ideias erradas acerca do passado
As coisas são mesmo como as imaginamos?
Talvez não.
Eis uma curta série dedicada às coisas que não são exactamente como costumamos pensar.
Iniciamos com a História? Boa ideia.
01. Os habitantes da antiga Inglaterra eram todos brancos, altos e loirosHoje Londres é uma das cidades mais multiculturais do planeta, mas foi somente no século passado que as minorias se tornaram uma visão familiar no Reino Unido. Há dois mil anos, por exemplo, todos teriam sido branco, altos, loiros ou ruivos, certo? Errado. A Inglaterra teve cidadãos negros há pelo menos 1.800 anos.
Em 2010, pesquisadores da Universidade de Reading encontraram evidências de que York, nos tempos dos Romanos, era o lar de indivíduos de ascendência norte-africana. Um deles (uma mulher) foi encontrado enterrado com joias suficientes para identifica-la como pertencente à classe alta, sugerindo que não fosse simplesmente um viajante ou um escravo. E não podemos esquecer que no ano 208, o imperador romano Septímio Severo (que era libanês) fez da mesma cidade a base dele, governando o Império daí até sua morte.
Esta história da multiculturalidade não acabou com a queda de Roma. Os registos mostram pequenas comunidades de negros que viviam na Grã-Bretanha do século 12º e sucessivos, com pelo menos um esqueleto identificado como sendo anterior à chegada de William o Conquistador, em 1066.
Por volta do 1501, Catarina de Aragão trouxe consigo uma vasta comitiva de muçulmanos, judeus e norte-africanos, muitos dos quais se instalaram na Grã-Bretanha.
Portanto, longe de ser um fenómeno moderno, o Reino Unido tem sido multicultural por boa parte da sua existência.
2. Os Homens de Neanderthal não eram muito inteligentes"Neanderthal" bem pode ser utilizado como sinónimo de "idiota": afinal, temos dos nossos antigos "primos" uma ideia bastante triste. Mas errada. Todas as provas disponíveis (sobretudo as mais recentes) apontam para que estes primos fossem tão inteligentes quanto nós. Ou tão estúpidos, é a mesma coisa.
Em 2014, os pesquisadores descobriram evidências de que os Neanderthais na Europa do norte caçavam mamutes e bisões empurrando os animais para profundas ravinas. Tal operação não era simples, exigia habilidades de comunicação e de planeamento, pelo menos tão avançadas quanto aquelas dos nossos directos antepassados, que utilizavam a mesma técnica. Também há muitas evidências de que as ferramentas dos Neanderthais eram tão avançadas quanto aquelas dos humanos: ossos, pedras e adesivos caseiros para criar armas perfeitas.
Também foram encontrados sinais de cultura Neanderthal. Os arqueólogos descobriram recentemente ornamentos e pigmentos para a pintura corporal, sugerindo complexos rituais religiosos. E há até mesmo uma caverna, em Gibraltar, que contém exemplos de arte dos Neanderthais.
03. No Antigo Egipto havia muitos escravos hebreusA Bíblia é clara neste aspecto, pois um inteiro Livro tem o nome de Êxodo: Moisés, o Mar Vermelho que se abre, etc. Quantos hebreus viviam no Egipto? 600 mil famílias, mais ou menos. Mas...
Mas os registos arqueológico dizem o contrário. Não tem sido descoberto um único fragmento de prova que indique a presença de judeus no deserto do Sinai. Considerando que temos provas de grupos nómadas bem menores, esta ausência é estranha, no mínimo. Também não há nada em israel que sugira um grande afluxo de migrantes em tempos antigos.
Os antigos Egípcios mantinham registos meticulosos de tudo o que acontecia, incluindo a migração de grupos nómadas menores. Se, de repente, a maioria dos seus escravos (um quarto de toda a sua população, segundo a Bíblia) tivesse fugido, haveria sinais duma grande crise económica, sem falar da citação nos registos. Mas nada disso existe.
Aliás, os antigos Egípcios tratavam os escravos melhor do que a maioria das culturas suas contemporâneas. Muitos eram escravos "de dívida", que eram libertados uma vez reembolsado o valor da mesma. Em algumas circunstâncias, até viviam melhor do que os camponeses livres. Nada de fuga bíblica para escapar de tiranos cruéis.
04. Os Romanos passavam o tempo a comer e festejarOs Romanos são conhecidos pelas suas enormes festas, com pilhas de comida e rios de vinho.
Hoje sabemos que a história acerca dos Romanos comer até provocar o vomito e poder continuar a encher-se é totalmente falsa. Mas há mais do que isso: ao longo da história da República, houve dezenas de leis muito explícitas que limitavam os gastos dos cidadãos privados em divertimentos e festas.
Em 81 a.C., Sulla aprovou uma lei que regulava severamente as despesas de entretenimento. Alguns anos mais tarde, uma outra lei definiu o tipo e a quantidade de alimentos que poderiam ser utilizados.
Será que as leis eram respeitadas? Sob Júlio César, os soldados interrompiam os banquetes e controlavam os gastos das pessoas nos mercados. Só depois da época de Nero estas leis foram abolidas.
05. Stonehenge não é grande coisaPois: Stonehenge é um dos principais achados pré-históricos mundiais, mas não é propriamente enorme e se encontra aí, isolada no meio da campanha rural inglesa. E podemos pensar que sempre foi assim. Mais uma vez: errado.
Nos tempos pré-históricos, Stonehenge foi cercada por uma gigantesca (para a época) metrópole.
Em 2014, um grupo de cientistas concluiu o maior levantamento alguma vez efectuado na área histórica: além de uma coleção semelhante de pedras gigantescas a apenas 2 milhas de distância, a equipa descobriu capelas, túmulos, santuários e zona alastradas para rituais ao longo de hectares de terra. Há vestígios de importantes assentamentos onde as tribos costumavam reunir-se em grande número: Stonehenge antiga era provavelmente sempre ocupada.
06. O Brontosauro nunca existiuProvavelmente a maioria das pessoas conhece o Brontosáuro (
Brontosaurus) apenas pelo filme de
Steven Spielberg, Jurassic Park.
Na verdade, quando o filme foi realizado, era ideia comum de que o Brontosauro fosse uma má interpretação feita pelo paleontólogo Othniel Charles Marsh, em 1879.
Erro: no mês passado (Abril de 2015), um novo estudo de 300 páginas estabeleceu que o Brontosauro existiu de verdade. Pelo que o bicho é agora oficialmente reconhecido. E o estudo foi da Universidade Nova de Lisboa.
07. A dieta do Paleolítico era pobreQuem disso isso? Pois, a ideia é que os nossos antepassados comiam mal e, sobretudo, com muita pouca variedade. Afinal o que tinham à disposição? Carne quando conseguiam caçar, um pouco de grão, alguns frutos e pouco mais. Uma vida triste, sem dúvida. Mas falsa.
A farinha, por exemplo: é verdade que a agricultura nasceu só há 10 mil anos atrás, mas a planta do trigo existia antes. Em 2010, os pesquisadores descobriram vestígios de farinha antiga 30.000 anos em pedras de moagem em Itália e na República Checa. E a farinha significa muitas coisas: o pão, por exemplo.
E a carne? Na altura um mamute era caçado e consumido logo? Nada disso. A carne era guardada.
Finalmente, não podemos esquecer que, tal como no caso do trigo, a agricultura "melhorou" algumas plantas, mas não as criou: na maior parte dos casos elas já existiam, pelo que era só recolher e consumir. Pensem na variedade de frutos à disposição...
08. A Rota da Seda era uma estrada para o comércioA Rota da Seda começava na China e acabava na antiga Roma. Na verdade era uma rede de estradas, com muitas variantes (basicamente: as do Norte e as do Sul). Era uma rede de rotas comerciais, sem dúvida, mas era muito mais do que isso.
Para os nossos antepassados, a Rota da Seda trazia muito mais do que seda: num mundo sem jornais, televisão ou internet, era a única forma de contacto de muitas comunidades com o resto do mundo. As pessoas que se deslocam ao longo do seu comprimento traziam notícias, ideias, fofocas e até mesmo dicas de moda. Também era responsável por espalhar pensamentos religiosos: a posição privilegiada do Budismo na Ásia é quase inteiramente devida aos monges que caminhavam ao longo da Rota da Seda, pregando a iluminação a todos os que passavam.
Igualmente importante era o papel da Rota do ponto de vista dos refugiados. Embora raramente se pense na Rota da Seda como um caminho para pessoas que fugiam, este foi um dos seus vários papeis e um dos mais importantes até, pois aquelas marés humanas traziam conhecimentos, tecnologias e intercâmbios culturais. Os mercantes eram simplesmente uma nota de rodapé na história da Rota da Seda.
09. Na Antiga China não eram praticados sacrifícios humanosOs sacrifícios humanos são normalmente associados aos Astecas ou aos Mayas que matavam as pessoas para garantir que o Sol aparecesse. No entanto, outra cultura praticavam sacrifícios humanos: a Antiga China.
Neste aspecto, os antigos chineses eram tão violentos como as civilizações pré-colombianas. Em 2007, os arqueólogos desenterraram uma vala comum preenchida com os corpos de 47 pessoas sacrificadas para que pudessem continuar a servir o dono no outro mundo. Antigos escritos da época Shang (1600 a.C. - 1046 a.C.) descrevem 37 diferentes categorias de sacrifício humano.
E a prática continuou ao longo dos séculos: até a Dinastia Ming (1368 d.C.- 1644 d.C.), as concubinas imperiais eram sacrificadas quando o imperador morria. Além disso, a sociedade chinesa matava grupos por motivos religiosos.
10. Os Romanos eram tolerantes, perseguiram apenas os CristãosA história dos primeiros mártires perseguidos pelos Romanos é um dos mitos do Cristianismo: os Cristãos não foram perseguidos mais do que outros grupos religiosos em Roma.
Enquanto Nero odiava os cristãos, outros imperadores odiavam outros cultos. Em 186 a.C., o Senado aprovou leis para reprimir a liberdade do culto de Bacchus, uma nova religião centrada no culto de Dionísio. Como os Cristãos depois, os membros do culto de Bacchus foram caluniados e retratado como hereges e inimigos do Estado. Também foram brutalmente oprimidos. Durante a repressão, muitos membros da seita foram torturados e muito mais foram executados.
Geralmente, os Romanos não se intrometiam no âmbito religioso dos povos conquistados: mas havia excepções, sobretudo quando a religião punha em perigo a dominação romana. Os Druidos foram alvo desta tipo de aniquilação, como aconteceu com os judeus. Havia até alturas em que as perseguições contra os cristãos eram interrompidas enquanto continuavam contra outras religiões. Do ponto de vista dos Romanos, o Cristianismo era apenas uma das muitas seitas que existiam na altura.
Ipse dixit.
Fontes: no final da série (e isso demora, aviso desde já).
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