A queima de centenas de toneladas de alimentos para produzir biocombustíveis é um crime contra a humanidade. Desde 2007, a União Europeia e o governo dos Estados Unidos têm dado enorme apoio ao agro-negócio da comida para encher os tanques dos carros - incentivos fiscais e subsídios de biliões a cada ano. O resultado? Mais fome, land grabbing, danos ambientais e centenas de milhares de vidas perdidas.
A cada 5 segundos uma criança em cada 10 morre de fome e de doenças relacionadas. É irónico que os biocombustíveis ainda são promovidos por algumas empresas multinacionais como a escolha eco-friendly [amiga do ambiente, ndt] como uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis. Agora são poucos os que acreditam que deles possam derivar benefícios sociais ou ambientais, a apoiá-los fica quem lucra directamente com as políticas em favor dos biocombustíveis, como os da Europa. A realidade é que não são nada mais do que uma outra forma de exploração irresponsável dos recursos. Produzir um litro de biocombustível, por exemplo, requer 2.500 litros de água.
As políticas europeias de promoção dos biocombustíveis, desde 2008, desviaram o cereal para fora do mercado dos alimentos para satisfazer o agronegócio com o objectivo do lucro privado. Este uso de grandes quantidades de alimentos para obter quantidades relativamente pequenas de carburante para o transporte tem três consequências desastrosas.
Em primeiro lugar, um aumento da fome no mundo.
Quase todos os biocombustíveis utilizados na Europa são derivados de cereais, principalmente trata-se de trigo, soja, óleo de palma, óleo de milho, óleo de canola, alimentos essenciais para a população. O que a Europa agora queima todos os anos nos tanques de combustível dos veículos a motor é comida suficiente, em calorias, para alimentar 100 milhões de pessoas. Além disso, o custo dos alimentos básicos aumenta em 20 %, 36 % o óleo vegetal e o milho mais do que 22 % em 2020 devido aos objectivos europeus. Para aqueles que vivem nas favelas ao redor do mundo, para aqueles que têm muito pouco dinheiro para comprar comida, isso é um desastre.
Em segundo lugar, há uma enorme procura por terras para o cultivo de biocombustíveis, e isso destrói a agricultura familiar e o meio ambiente. Os especuladores da terra, os hedge funds, as empresas do agronegócio têm feito uma corrida global para a terra que forçou centenas de milhares de pequenos agricultores a deixar os seus terrenos, os agricultores que foram privados de recursos básicos, como a água. Regularmente em todo o mundo, mas especialmente na África, Ásia e América Latina, a monopolização das terras por parte de grandes multinacionais do biocombustíveis é acompanhada por violência: as vítimas são os pequenos agricultores e as suas famílias.
O terceiro aspecto é a devastação ambiental. A procura por mais terras para alcançar os programas europeus sobre os biocombustíveis significa terras de cultivo intensivo em cereais, resultando em desmatamento, desaparecimento de pastagens e de turfeiras. Agora e evidente como os supostos benefícios para o clima por parte dos biocombustíveis sejam quase zero, se não totalmente inexistentes.
Com o uso dos fertilizantes, o monopólio da terra, o desmatamento e a eliminação de outras culturas, a produção de biocombustíveis na Europa não reduziu as emissões - como foi dito - mas permitiu a emissão de milhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono na atmosfera. O consumo de combustíveis fósseis deve ser reduzido rapidamente, mas a solução está na redução do consumo de energia, nos transportes públicos e nas fontes alternativas de energia limpa, não no uso da terra com tantas consequências desastrosas. É hora de pôr fim a esta loucura dos biocombustíveis, o que permite que algumas empresas transnacionais obtenham enormes lucros, causando devastação ao meio ambiente e milhões de vítimas.