Ainda com esta história das autos electrícas? Sim, ainda.
Um pouco porque as vendas destes modelos procedem alegres com uma procissão fúnebre, um pouco pro via dos custos de produção.
Da utilidade do carro eléctrico não há muito para dizer. O carro serve essencialmente para ir do ponto A até o ponto B. Se o carro parar no ponto C, e se este ficar no meio dos dois anteriores, a coisa não está agradável.
Com uma autonomia que nem chega aos 200 quilómetros (devagarinho e sempre que não haja ventos contrários), com no mínimo 6 horas de espera para uma recarga completa, com um custo alucinante (33 mil Euros para um Nissan Leaf? Quase o dobro do que um carro normal?), com efeito-memória dos acumuladores (e o custo da eventual substituição), não admira que o adquirente tenha que ter fortes traços de masoquismo.
E da ecologia? Que tal o impacto do carro eléctrico no ambiente?
O cientista Bjorn Lomborg, nas páginas do Wall Street Journal, faz duas contas.
Abatimento das emissões do dióxido de carbono (CO2)? Onde?
Para produzir um carro eléctrico são precisos mais 14 mil quilos de CO2 quando comparado com um carro convencional. Ao longo da vida útil do veículo (assumida em 80.000 km, caso contrário seria preciso contabilizar a substituição dos acumuladores), o carro eléctrico emite menos 8.7 toneladas de CO2 do que o carro movido com combustíveis fósseis. Considerando 5 Dólares (pouco mais de 4 Euros) de dano social por cada tonelada de CO2, a poupança do carro eléctrico nem chega aos 44 Dólares (35 Euros). Um mau negócio.
Os ambientalistas defendem que tudo não pode ser reduzido ao factor CO2. Mas como é produzida a electricidade que move os carros? Não é com a queima de combustíveis fósseis (não no total, mas em boa medida sim). Isso até pode ser ultrapassado: afinal trata-se de tirar os poluentes das ruas das cidades (e descarrega-los num outro lugar, porque não desaparecem). O que é verdade: mas quantos poluentes são necessários para produzir os acumuladores, por exemplo? Desejamos falar do lítio, que está na base das baterias? Em quais condições operam os trabalhadores (Bolívia, China...) que extraem o mineral? O Leitor tem internet: procure imagem.
O carro eléctrico é um negócio. Não do ponto de vista do adquirente, que fica na posse dum carro particularmente caro e limitado; nem do Estado, que perde receitas com isso. É um negócio para quem produzir carros e acumuladores, por exemplo (e não acaso as empresas que produzem carros tencionam entrar no mercado das baterias também).
Sérias alternativas? Haveria. Sem passar pelos combustíveis alternativos (que trazem outros problemas, como a das monoculturas), é bom lembrar que no último Salão do Automóvel de Genebra, a Citroen apresentou o C3 Hybrid Air, um carro que utiliza dois motores:um a gasolina e um de ar comprimido. Este recarrega-se durante as desacelerações e pode empurrar o pequeno C3 até uma velocidade de 70 km/h. Ideal para a cidade, portanto.
Face a homologa versão a gasolina, o C3 Hybrid Air consegue uma poupança de combustível na ordem do 45%. De facto, o veículo tem um gasto de 2.9 litros/100 km e emissões na ordem dos 69 g/km de CO2. Não é "zero" (nem os carros eléctricos, como vimos, alcançam este resultado), mas é sempre assinalável.
E quanto custa? Nada. Porque é um protótipo: tudo o que a Citroen diz é que custaria muito menos do que um carro eléctrico, pois não precisa de acumuladores e o motor de ar (hidráulico) é bastante simples e de dimensões reduzidas.
Ninguém ganharia com isso.
Não está à venda.
Acontece.
Pergunta final: mas não seria melhor um mundo sem carros? Sim, sem carros, sem aviões, sem comboios, sem hospitais, sem luz...afinal precisamos de quê? Uma caverna e uma árvore de maçãs.
O carro é liberdade. Permite que cada um de nós possa mexer-se, quando, com quem e com as coisas que quiser. Os carros existem como antes existiam os cavalos. A invenção do comboio eliminou os cavalos? Não, porque o homem quer mover-se, ver, explorar, visitar, transportar. Quem pensa que um mundo sem a ideia do carro seria um mundo melhor vive num outro planeta.
Esta, repito, é a ideia de carro. Depois há os carros que funcionam com combustíveis fósseis. E aqui o discurso muda radicalmente...
Ipse dixit.
Fontes: Il Corriere della Sera, Quattroruote
Imagens: Motorbox
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