A Petrobras e o charco
Conspiração

A Petrobras e o charco


Fui espreitar vários artigos acerca do escândalo Petrobras, algo que está a abalar o governo de Dilma no Brasil.

Trata-se, de facto, do maior escândalo que alguma vez eclodiu no País.

Não estou interessado nas manifestações de rua, nas paneladas das avenidas de S. Paulo. Esta é só a oposição que faz o trabalho dela. Mais interessante o que afirma Dilma:
Se em 1996 e 1997 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário que ficou quase 20 anos praticando atos de corrupção. A impunidade leva a água para o moinho da corrupção
Não sei se Dilma entende a gravidade das suas palavras. Está a dizer que ao longo de 2 governos Lula e 1 dela ninguém suspeitou, investigou ou reparou nas centenas de milhões que mudavam de bolso com a máxima tranquilidade. Vinte anos de sono profundo, enquanto numa empresa do Estado uma quantia impressionante de dinheiro era desviado. Pior a emenda do que o soneto? Não vinte meses, foram vinte anos...

Na Europa estamos habituados a ouvir este tipo de justificação, é normal um governo acusar os executivos anteriores para justificar os falhanços: o tal "a culpa foi dos outros" é uma espécie de último recurso, uma saída de emergência para quem ficar encostado entre a espada e a parede. Algo no qual ninguém já acredita, como é óbvio. Talvez no Brasil, onde a alternância é coisa relativamente recente, este tipo de desculpa possa ainda pegar, não sei.
Mas os factos não mudam, pois a corrupção continuou durante os governos da Esquerda: tinha sido Lula a promover Paulo Roberto Costa a Director do Abastecimento, não o governo de Cardoso. Farias, Hoffmann, Vaccarezza, Mentor, Costa, Loubet: nem estes são do governo Cardoso.
Aliás, uma coisa que tem de ser realçada é que do bolo Petrobras todos parecem ter obtido uma fatia: PT, PMDB, PTB e, obviamente, PSDB. Todos juntos, em alegria. Isso deveria fazer reflectir, pois mais uma vez é questionada a alegada "superioridade moral" da Esquerda.
A realidade é que não há nenhuma superioridade moral, nem poderia haver: é no sistema, não apenas brasileiro mas global, que podem ser encontradas as razões da corrupção. Não se pode entrar num charco e fingir de ser imune à lama: não é assim, fica-se sujo na mesma. A única maneira para não sujar-se é não entrar no charco. O que no nosso caso significa: mudar o sistema.
Isso porque os partidos são feitos de homens. Homens que ficam com poder, homens que lidam com dinheiro, homens que têm tentações, como qualquer um. E espantem-se: os políticos de Esquerda são seres humanos também.
Pior: homens de Esquerda imersos num sistema capitalista (eis o charco). Não que outros sistemas não impliquem corrupção: esta sempre existiu, até nos regimes pseudo-comunistas como o Soviético. Mas o actual sistema, um emaranhado de política, dinheiro e desresponsabilização, parece ter sido criado de propósito para favorecer as más práticas.
Há meses que oiço falar de golpe. Deixem os álibis e encarem a realidade: o escândalo Petrobras não é uma tentativa de golpe, é uma realidade. Uma lógica consequência para quem escolheu entrar no charco iludindo-se que não iria sujar-se.
Não querem as paneladas nas avenidas? As paneladas não se evitam gritando "golpe!" cada vez que alguém protestar. Os protestos são legítimos e se houvesse um outro partido no poder, os militantes do PT fariam exactamente o mesmo. Afinal a democracia vale para todos ou não? As paneladas evitam-se evitando as condições que possam criar as paneladas.
Como? Mantendo os olhos abertos. Os políticos, com certeza, mas sobretudo os militantes, os cidadãos, os órgãos de comunicação: todos estes têm que manter os olhos bem abertos, lembrando-se que atrás dos ideais e das ideologias há homens, com todas as fraquezas deles. E deixando de lado as ilusões, porque as fraquezas não olham para o nome do partido (o Mensalão não ensinou nada?).
E, entretanto, não seria mal começar a pensar numa forma para eliminar o charco, duma vez por todas. Caso contrário, aquele da Petrobras não será o primeiro mas nem o último dos escândalos.
Ipse dixit.



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