As previsões para 2015-2025: Stratfor
Conspiração

As previsões para 2015-2025: Stratfor


Como será o mundo dos próximos 10 anos?
Eis um tema interessante.

Bom, na verdade haveria outros assuntos dignos de nota. Por exemplo: um dos irmãos Kouachi (Charlie Hebdo, lembram-se?) era praticamente cego. Ou ainda: o dinheiro pago aos killers de Boris Nemtsov tinha passado por empresas de contractors dos Estados Unidos.

Mas estes são pormenores: o futuro é sempre algo mais fascinante, sobretudo quando quem faz as previsões for uma empresa conceituada.

Neste caso, a "conceitualidade" pertence à Strategic Forecasting, Inc., ou mais simplesmente Stratfor,  empresa americana fundada por George Friedman, cientista político e escritor dos Estados Unidos. E não é uma empresa qualquer: Friedman rodeou-se de especialistas com provas dadas no terreno, quais ex-oficiais do Comando Operações Especiais do exército americano, ex-oficiais dos SEAL, executivos de empresas de espionagem, especialistas financeiros...enfim, um bom grupo, sem dúvidas.

Portanto: quais as previsões até 2015? Vamos ler.


A Rússia desfeita

Segundo a Stratfor, na próxima década a Rússia irá tentar superar o papel de País exportador de matérias-primas para tornar-se fabricante de uma panóplia de produtos com maior conteúdo tecnológico.

Muito bem. Doutro lado, é algo que está a acontecer já agora. A Rússia de hoje, sujeita à pressão do baixo custo do petróleo, tenta não ser apenas um grande exportador mas também um produtor, para diminuir as importações também.

Outra previsão: a crise ucraniana continuará a ser uma pedra angular nos relacionamentos internacionais nos próximos anos. Faz sentido: os acordos de Minsk deixam vislumbrar precisamente este cenário, sem uma solução definitiva em vista.

Até aqui tudo bem. É agora começam os problemas.

Segundo a Stratfor, a Rússia vai tentar superar o papel de País exportador, só que não vai ser capaz de existir por uma outra década "na sua forma actual". E por qual razão?
Esperamos que as autoridades de Moscovo ficarão substancialmente enfraquecidas, o que irá levar até uma formal e informal fragmentação da Rússia.
E isso vai ser suficiente para transformar "num alarme real" o problema do seu arsenal militar.

O quadro é realmente catastrófico. A Rússia de Putin estaria bem perto dum colapso geral, repetindo assim a queda da União Soviética. Mas quais as razões?

Nos próximos 10 anos, explicam os especialistas de Stratfor, Polónia, Hungria e Roménia vão querer "retomar as partes do território perdido para o benefício da Rússia". E "irão tentar arrastar ao lado delas Bielorrussa e Ucrânia". Nada menos.
No Sul a capacidade dos Russos em manter o controle do norte do Cáucaso vai evaporar e também a Ásia Central será desestabilizada
Mas por qual razão? Mistério...a não ser que estejam em programa outras "revoluções coloridas".

"A Karelia vai tentar juntar-se com a Finlândia". Esta é uma novidade, mas Stratfor deve ter informações de antemão. Ou isso ou faz previsões com a caixa do Risco (o Risk no Brasil!).
Nas regiões marítimas do Extremo Oriente, que são muito mais próximas e mais relacionadas com China, Japão e Estados Unidos do que não com Moscovo, irão tornar-se mais independentes.
É o desaparecimento da Rússia, na prática limitada à região de Moscovo e pouco mais.
Notícia positiva: "não haverá uma revolta contra Moscovo". Ainda bem.... "mas a capacidade decrescente de Moscovo em apoiar e controlar uma Federação Russa abrirá eventualmente um vácuo". Pronto: é o caos.

Arrumada a Rússia, Stratfor individua o verdadeiro núcleo da questão ao longo dos próximos 10 anos. Ou ainda antes: "O problema, na primeira metade da década, estará focado sobre o tema de quanto ampla será a aliança formada entre o Mar Báltico e o Mar Negro".

Porque, lembramos, a Rússia desaparece.

E as armas nucleares da defunta Rússia? Tranquilos: temos os Estados Unidos, não é verdade? Os EUA vão ter que "enfrentar um teste de primeira grandeza". Porque Washington não será tão potente como antes, mas continuará a ser a capital do planeta.

Europa: guerra total

Voltemos agora para a velha Europa e observamos melhor as miras expansionistas da potente Polónia. Na verdade não é bem claro quais poderiam ser as reivindicações territoriais de Varsóvia, pois a Polónia não faz fronteira com a Rússia. Mas podemos adivinhar: a Polónia vai retomar a Galícia. Tranquilos: não a região espanhola que faz fronteira com Portugal, mas a Galícia da Europa Central.

Problema: a Galícia hoje é parte da Ucrânia. Varsóvia vai atacar Kiev? Pelo visto...
Varsóvia vai querer retomar Vilnius, a capital da Lituânia, que já foi cidade polaca? Mas a Lituânia hoje chora contra uma possível invasão russa. Coitadinhos, não entenderam que o verdadeiro perigo é a Polónia!

Portanto, nos próximos 10 anos teremos uma Europa em chamas, com alguns Países do ex-bloco soviético empenhados numa luta até o últimos sangue contra tudo e contra todos para ocupar novas terras e dividir-se a carcaça da ex-Federação Russa.
E tudo até 2025, é bom não esquecer isso.

Que tipo de previsões são estas? São as previsões de quem pouco entende da Europa. São previsões tipicamente estadounidenses: superficiais, apresentam um conhecimento relativo da História (até recente: na primeira parte do documento é dito que em 2008 a Rússia invadiu a Geórgia...), põem no centro os interesses dos Estados Unidos, misturando o futuro com os desejos. E o resultado não pode ser grande coisa.

E já agora, vamos ver as previsões para as outras partes do globo.

China: o declínio

A China? Acabou.
A China já completou o seu ciclo de alto crescimento [...] e entrou numa nova fase. Esta fase inclui um crescimento muito mais lento e uma ditadura cada vez mais poderosa para conter as forças divergentes criadas pelo lento crescimento. A China vai continuar a ser uma grande força económica, mas não será o motor dinâmico do crescimento global que era uma vez.

Portanto, uma China que abranda até o ponto que a Stratfor fala duma fase pós-China.
Esse papel [o tal motor dinâmico, ndt] será tomado por um novo grupo de países altamente dispersos que chamamos de "Pós-China 16", que inclui grande parte do Sudeste da Ásia, África Oriental e partes da América Latina.

Que a China abrande é bem possível (já abrandou) mas que esteja condenada a mera figurante...
América Latina? Será o Brasil? Nem pensar: Peru (que, verdade seja dita, está a crescer bem).

E no resto do planeta? Simples: México, Bangladesh, Etiópia serão as economias com os melhores desempenhos até 2025.

Etiópia?!? Nos próximos 10 anos? Mas têm ideia nos EUA de como está a Etiópia?
Um dos Países mais pobres do mundo, sem infraestruturas, com 1 (uma) linha ferroviária, onde 84% da população prática uma agricultura de subsistência e ganha pouco mais de 1 (um) Dólar por dia. Onde nem o turismo é desenvolvido, onde são exportados unicamente café e peles, pois mais não dá. E este deveria transformar-se num "fenómeno económico" nos próximos 10 anos?

Mais potencial tem o Bangladesh que, apesar de também ser um dos Países mais miseráveis do globo, pelo menos tem visto investimentos internacionais ao longo dos últimos anos e pode contar com uma vizinha Índia em plena fase de desenvolvimento.

Mais complicada a situação do México. Potencial não falta, mas até quando será o fornecedor de droga dos EUA terá muitas dificuldades em livrar-se duma corrupção e duma violência que asfixiam as empresas.

Os EUA socorristas

E os Estados Unidos? Obviamente, na óptica de Stratfor, os EUA vão continuar a ser a grande potência económica, política e militar do planeta. Se calhar não como antes, mas o melhor País do mundo sem dúvida. Melhor e mais esperto também:
Será menos envolvido do que no passado. A sua baixa taxa de exportações, o aumento da sua auto-suficiência energética e as experiências ao longo da última década, vão fazer com que seja cada vez mais cauteloso sobre o envolvimento económico e militar no mundo. Aprendeu o que acontece com as exportações ​​quando os clientes não podem ou não comprar os seus produtos. Aprendeu os limites do poder na tentativa de pacificar Países hostis. Aprendeu que a América do Norte é uma arena na qual pode prosperar com compromissos selectivos em outros lugares. Irá enfrentar grandes ameaças estratégicas com poder proporcional, mas não terá o papel de socorrista que teve nos últimos anos.

"Socorristas": é assim que os Americanos gostam de se ver. Uma espécie de Cruz Vermelha. Enquanto a Rússia, pelo contrário...mas isso não interessa: afinal vai desintegrar-se, não é?


Ipse dixit.

Fonte: Stratfor: Decade Forecast: 2015-2025



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