Energias renováveis? Sim, mas...
Conspiração

Energias renováveis? Sim, mas...


Entre 1946 e 1947, General Motors, Standard Oil (Rockefeller) e Firestone foram os protagonistas dum
golpe para lançar o petróleo até aí onde ainda hoje está: no Olimpo dos combustíveis. Simplesmente, destruíram os sistemas de transporte por electricidade nos EUA, forçando milhões de norte-americanos a usar carros, camiões, autocarros, tudo um gasolina / diesel com pneus. O resto do planeta seguiu o exemplo.

Hoje os lucros do sector do petróleo e do gás são cerca de 5.000 mil milhões de Dólares por ano. Um terço do PIB dos EUA nas mãos de poucas corporações. E se estes forem os lucros, imaginem os investimentos...

Em 2015, os investimentos globais (não os lucros) no campo das energias renováveis ​​foram apenas de 329 bilhões de Dólares. Os grandes lucros ainda são esperados, enquanto o dinheiro é investido nas fontes mais populares da energia renovável: solar, eólica, biomassa e energia a partir dos resíduos, biocombustíveis, hidroelétrica, geotérmica, oceânica, mais umas de menor importância.

O consumo mundial de energia fica perto de 18 terawatts por ano, o que significa 8 triliões de watts. A parte do leão na produção dessa energia ainda é dos combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão. As renováveis produzem, no total, pouco mais de um terawatt e meio, pouco menos de um décimo das necessidades dos seres humanos. Mas...

Mas eis a boa notícia: os passos em frente da emergente indústria das renováveis são espantosos. Consideremos isso: desde 2004, o investimento nas energias renováveis (sempre investimento, não lucros) foram multiplicados por sete. China, EUA, Alemanha, Inglaterra, Japão, e até mesmo alguns dos Emirados do Golfo estão a planear uma nova grelha energética, toda "verde". Que fique claro: as renováveis ainda são bebés quando comparadas aos vários gasóleos, gasolina e carvão. Mas estão a crescer com uma fantástica velocidade e isso não aconteceria se ainda houvesse dúvidas sobre o funcionamento ou a eficiência delas.

Até aqui tudo bem, certo? Afinal era a boa notícia.
Agora vamos ver a má notícia.

Renováveis: só vantagens?

Porque a pergunta é: o que se passa? Estamos no meio duma revolução onde os sujos petroleiros se tornaram almas gentis? Os investidores também? E os especuladores, todos bons também eles? Sim, e se o meu avô tivesse tido as rodas teria sido um autocarro... A energia "verdade" traz com ela alguns problemas. Alguns graves, outros mais ainda.

Vamos iniciar os menos graves.
Algumas das energias renováveis ​​não são sustentáveis. Ou seja, certamente não acabarão como um poço de petróleo esgotado, mas danificam de forma muito semelhante os seres humanos e o meio ambiente. O que raramente é dito é que para algumas formas de renováveis ​​a energia utilizada excede a que é obtida. O que não é bom. Por exemplo: cavar uma mina de carvão é desastroso do ponto de vista ambiental, mas obter o neodímio e outros metais raros para as turbinas eólicas polui ainda mais.

Mais: como do costume, estes metais são obtidos com o trabalho de pobres desgraçados que vivem na miséria e com uma esperança de vida muito reduzida (para ficar com o neodímio: respirar o seu pó provoca embolia pulmonar e a exposição prolongada danifica o fígado). Mais: boa parte dos materiais utilizados nas renováveis é feito a partir do petróleo, inevitavelmente, pois não há nenhuma outra matéria-prima alternativa.

A hidroelétrica... é quase pior. Para programar uma quantidade adequada de energia para as necessidades do mundo é preciso inundar milhões de aldeias, destruir ecossistemas e terras aráveis (bem cada vez mais precioso este). E a utilização de cereais para a bioenergia já provou ser catastrófica.
Tudo isso não é sustentável.

Depois nós assumimos que a ascensão meteórica das renováveis ​​colocará petróleo e gás num cantinho em poucos anos. Isso pode parecer bom, pelo menos do nosso ponto de vista. Mas o que aconteceria aos Países mais pobres, aqueles que vivem da venda do petróleo? Não a Arábia Saudita, não as monarquias do Golfo: falamos aqui de Nigéria, Angola, Venezuela, República do Congo, Gabão, México, Cazaquistão, Azerbaijão, Equador, Indonésia, Sudão do Sul, Guiné Equatorial, Albânia, Filipinas, Guatemala, Mauritânia, Chade, Viet Nam, Níger, Camarões. São os Países onde vive boa parte do bilião e 300 milhões de seres humanos que ainda não têm acesso à eletricidade ou aos cuidados de saúde. Quem leva para Angola as renováveis, quando e a que preço?

Todos estes são problemas reais, sérios e ainda sem uma solução. Podemos sempre pensar que com os avanços tecnológicos as coisas poderão melhorar. E provavelmente assim será no futuro. Mas agora?

A lobby

Agora a realidade é feita de lobby.
Como, por exemplo, a REN21, uma rede global que reúne os principais governos que investem nas renováveis (como EUA, China, Japão etc.), as ONGs, os centros privados de pesquisa, as universidades e as empresas.

REN21 espalha com baldes alegria sobre a crucial transição dos hidrocarbonetos para a energia limpa, também quando o assunto forem os Países pobres ou em desenvolvimento.
E explica que:
As renováveis estão a desempenhar um papel em rápido crescimento no mundo menos desenvolvido, por meio de sistemas domésticos individuais que trabalham com micro-grade (micro instalações), que sabemos serem mais baratas do que as instalações para hidrocarbonetos e que também são instaladas em áreas isoladas.
Maravilha. Dito assim parece que na aldeia de Merek no Chad seja fácil e barato trazer uma mini-central para renováveis, instalando tudo no telhado da barraca ou num campo de areia. Simples, não é? Tão simples que a pergunta é: mas porque não fizeram já isso? Calma, calma: estão a organizar-se. E aqui encontramos um dos principais problemas das renováveis, algo do qual nunca se fala.
Voltemos para a REN21:
Dezenas de entidades internacionais estão a empenhar-se no mundo para espalhar as renováveis, através de programas como a Energia Sustentável para Todos (SE4ALL) e através de programas governamentais multilaterais e bilaterais, participação de bancos de desenvolvimento e instituições financeiras.
Ops.
Já a expressão "bancos de desenvolvimento e instituições financeiras" em si deveria ser considerada uma ofensa ao bom gosto. Junta-la depois às energia renováveis... Mas é isso que se passa. Realmente pensamos que os tubarões de Finança global possam ignorar uma autêntica mina para o futuro como aquela das energias "verdes"? Não foram os mesmos tubarões que nas décadas '30 e '40 atiraram-se para o grande negócio do petróleo? E agora deveriam evitar as renováveis? Por qual razão?

Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial...são aquelas armadilhas bem conhecidas, que trabalham segundo esquemas bem conhecidos: a América empresta Dólares à Nigéria, que em seguida devolve cada cêntimo com a compra de tecnologia renovável de empresas americanas (na prática: um subsídio do Estado para as empresas), com o governo dos pobres que permanece endividado em Dólares, o poder das multinacionais que exploram os trabalhadores locais, etc. etc. É um filme já visto e demasiadas vezes. Falamos aqui dos EUA que financiam as instalações mas não cede a tecnologia aos Países pobres, porque depois os Países pobres são mesmo pobres e nem teriam o dinheiro para construir as centrais das renováveis.

Portanto: sim, renováveis para os pobres, mas entregues para o Ocidente com toda a comitiva dos investidores. E estes não são cenários para o futuro, é a realidade já descrita pelo mesmo REN21:
O sector privado foi-se apressando nas renováveis porque sabe que o povo dos clientes de baixo rendimento é um mercado apetecível [...] Temos já disponíveis os fundos Venture Capitalists, grandes bancos e empresas.
Óbvio que foi-se apressando, pois tal como os abutres cheirou carne fresca. Porque não é apenas a queda do preço do petróleo que arruína os Países em dificuldades: a prisão feita pelos capitais dos Estados mais ricos apresenta-se outra vez, agora em tinta "verde".

Os do costume

Fantasias em molho pessimista? Acham?
Então vamos ver os nomes.
Sim, é Bloomberg, a rede global para os investidores turbo. Há muito colocou os seus cérebros 24h por dia a trabalhar nas estratégias para garantir aos investidores a melhor rentabilidade dos capitais (ganho sobre as ações) investidos nas renováveis. Porque o investidor é está sim preocupado com a biosfera, mas ainda mais fica preocupado se o camponês do Níger não pagar o painel solar recém instalado.
É já agora um dos maiores financiadores das energias renovável no mundo, depois de ter bombeado mais de um bilhão de Dólares nos projectos mais atraentes. Considerando que o mega-banco alemão é mais do que falido, não pode correr riscos com eventuais perdas no sector das renováveis: e a Deutsche Bank não faz caridade para ninguém.
O gigante número um dos seguros também oferece serviços financeiros e escreve com entusiasmo:
O mercado das renováveis ​​tem crescido dramaticamente nos últimos anos. Os investimentos em energia eólica e solar oferecem um fluxo de lucros particularmente tentador com um perfil de risco bastante aceitável​.
Pode parecer esquisito, mas Alianz não fala de solidariedade, limpeza do ambiente, criancinhas com futuro cor de rosa: fala de lucros, riscos...
É a maior corporação mundial para o desenvolvimento das energias renováveis e ​​acabou de encontrar um sócio sério, de bons modos, sensível e atento ao bem estar da espécie humana: J. P. Morgan Asset Management, que tem mais de 85 bilhões de Dólares de assets em gestão. Oferece empréstimos para investigação, desenvolvimento e instalação de energia renovável no mundo. Praticamente: a Cruz Vermelha ou algo assim. Quem está atrás da J.P. Morgan? David Rockefeller que, por mero acaso, é o directo herdeiro daqueles que destruíram o futuro da electricidade para impor o petróleo.

Quem falta? Falta alguém mas o nome agora escapa... ahhhh, sim, é ele:
Não poderia ter faltado. Opera sob o nome de The Goldman Sachs Alternative Energy Group, definida como "a plataforma dedicada a tornar o capital disponível em energia limpa através de uma complexa série de instrumentos financeiros". E continua:
O nosso grupo é totalmente dedicado ao desenvolvimento contínuo de energia a partir de hidrocarbonetos não convencionais, das surpreendentes energias renováveis.
Melhor não acrescentar nada.

Aqui está a verdade por trás da revolução verde, uma verdade cheia de buracos, que pode matar milhões de pessoas. Este é o futuro que aguarda bilhões de pobres atraídos pela promessa de luz, calor e saúde, tudo  "limpo".

Ser em favor das energias renováveis não é suficiente. É preciso que estas energias não representem um ónus para quem já agora precisar de ajuda, caso contrário a transição para as renováveis será atirado para as dos mais desfavorecidos. E os lucros serão para os do costume.


Ipse dixit.

Fonte: Paolo Barnard



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