Conspiração
Grécia e China
Admitimos como hipótese que a Grécia possa sair do Euro. O que aconteceria, não apenas no Velho
Continente?
Na verdade, ninguém sabe responder ao certo.
O que sabemos, dadas também algumas recentes experiências, é que a economia deve ser vista hoje como algo de interligado do ponto de vista global. Eis uma das vitórias da globalização: a asa batida duma borboleta na Ásia pode tornar-se uma tempestade no outro lado do planeta. Portanto, o Grexit (a saída de Atenas da Zona Euro) pode tornar-se muito desconfortável nos mercados mundiais.
A revista americana Foreign Policy analisa quais perspectivas podemos esperar, tendo como base duas zonas de alto risco: Zona Euro (por causa da Grécia) e... (surpresa!) China.
A Grécia!
Como explica o economista Daneisl Altman, se a Grécia vai entrar em "default" (isso é: falência) para depois abandonar o Euro (mas como? Ninguém sabe como um País pode sair da Moeda Única...), o Euro entra em sofrimento. Óbvio. Neste caso, os investidores (estas identidades ectoplasmáticas que ninguém quer chamar com os nomes deles: grande bancos privados) serão forçados a considerar que também outros Países poderiam deixar o Euro: Portugal poderia ser o próximo na lista, mas não esquecemos que a Áustria recolheu as 250.000 assinaturas necessárias para ter um referendo sobra a saída do Euro e que em 2016 a Grã Bretanha apresentará uma consulta popular com o mesmo objectivo.
Tudo isso tem um resultado: vai crescer dramaticamente a incerteza sobre o valor do Euro, que não parece gozar duma grande saúde (tanto para utilizar um eufemismo). Se o valor do Euro for imprevisível, não há nenhuma maneira de saber quanto podem valer os Títulos em Euros (cujos juros poderiam saltar como uma mola. Euro: a moeda da estabilidade...). Então, os bancos centrais fora do Velho Continente podem bem para de criar reservas em Euro como contrapeso ao Dólar. Aliás, esta tendência já se inverteu nas últimas semanas, mas com o 'Grexit' poderia literalmente precipitar.
A saída da Grécia da Zona Euro poderia paradoxalmente aumenta o valor do Euro: a verdade é que os Países mais fracos (em termos de situações orçamentais) na Europa servem apenas para diluir a força da Alemanha e dos outros (poucos) pilares do Euro. Isso é: o Euro poderia tornar-se mais forte, ganhar valor. No entanto, um Euro mais forte prejudicaria as exportações, minando o já fraco crescimento económico.
Portanto, temos dois cenários: um no qual alguns Países saem, voltando à moeda antiga (desvalorizada), facilitando assim as suas exportações (e complicando as exportações dos Países fora da Zona Euro). O outro é um Euro mais forte nos Países que continuariam a ficar no âmbito da moeda única, que enfraqueceria as suas capacidades de exportação e aumentaria as importações.
Depois há outro cenário ainda (na verdade as possibilidades são quase infinitas): um Euro que assusta os investidores, que começa a ser abandonado e que, portanto perde valor. Até poderia parecer bom do ponto de vista dos exportadores europeus, mas não podemos esquecer os tais juros sobra a Dívida, que aumentaria de forma substancial. E aqueles Países com uma situação financeira ainda insustentável (Portugal, mas não apenas ele) entrariam em coma.
E quem no estrangeiro investiu em Euros? A solução melhor é rezar. Nesta altura não é nada claro qual pode ser o futuro da Moeda Única. A boa notícia é que tudo deverá ficar claro em tempos muitos curtos. Uma, duas semanas no máximo, mais tempo não há. Pessoalmente continuo a acreditar numa solução alcançada no último minuto, mas como profeta não sou...
Mas atenção. Enquanto a Europa (e não só ela) está empenhada a observar o seu umbigo, há algo que se mexe na China. E não é algo bom.
A China!
Há muito sabemos que Pequim tem casado a política económica dos
Chicago Boys (Milton Friedman, George Stigler, etc., os das políticas económicas neoliberalistas), apostando tudo no export e na criação de bolhas internas. A notícia não é nova: o que é novo é que o joguinho parece ter-se partido.
Baixo crescimento, queda dos salários e da procura interna (típicos sinais quando a aposta é feita só e apenas na exportação): os investidores (sempre eles!) estão a vender tudo o que de chinês tinham comprado. Títulos de empresas, de Estado, riso cantonês, até os gatos dourados que mexem a patinha. Tudo. E em menos de dois meses, a China conseguiu perdas de 3.000 biliões de Dólares, só em Títulos.
Então? Então vamos ver como as autoridades de Pequim podem dar a volta à situação agora que o tanto anunciado problema bate à porta. Porque se o Grexit é um problema que pode ter consequências nos mercados globais, imaginemos o que significaria uma China com sérios problemas...
Tanto para fazer alguns exemplos (todos teóricos, claro): são muitas as instituições financeiras que investiram na China e que poderiam perder uma parte considerável das suas "carteiras", mas também os investidores chineses teriam de vender o que adquiriram no estrangeiro para cobrir as perdas. Os principais mercados iriam cair.
E não esquecemos que a China não apenas exporta mas também importa: Austrália, Hong Kong, Mongólia, Turcomenistão, uma dúzia de Países africanos, as duas Coreias, Oman e Chile enviam pelo menos um quarto das suas exportações para a China.
Conclui Altman:
Uma crise fiscal e/ou monetária desses países iria desestabilizar ainda mais aquelas regiões que já sofrem de conflitos nas fronteiras e de serias ameaças de grupos extremistas [...]. O potencial de violência no Oriente Médio e na África do Norte continua para crescer. Se essas áreas "pegassem fogo", o preço do petróleo iria subir, bem como os custos de segurança e dos seguros para o comércio global. Como resultado, a economia global poderia experimentar uma nova travagem, isso enquanto os mercados financeiros já estão a cair.
Certo que este Altman não brilha por causa do optimismo...
Ou se calhar não é Altman o problema. Se calhar o problema é um sistema que tem em si as sementes para o surgimento de situações como estas.
Porque provavelmente a Grécia não irá sair do Euro e a China encontrará uma solução. No entanto, um sistema que ciclicamente tem que arriscar o Armageddon para sobreviver, é um sistema no qual algo não bate certo.
Ipse dixit
Fontes: Foreign Policy
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