O Anti-Fascismo
Conspiração

O Anti-Fascismo


Passou há pouco o dia 25 de Abril.

Por um mero acaso, é festividade nacional em Portugal e na Italia também: em Lisboa celebra-se a Revolução dos Cravos e o fim do regime salazarista, em Italia o fim da Segunda Guerra Mundial e o fim do regime fascista de Mussolini.

Discursos, reportagens, bandeiras, algumas lágrimas. O fascismo italiano acabou há mais de 60 anos, aquele português há 40 anos.

Em ambos os casos, não faz sentido o sobreviver dum antifascismo "clássico": épocas que acabaram e se tivessem de voltar seria com outros moldes. Mas um anti-fascismo sem fascismo e feito de fotografias amareladas não é apenas inútil: até é prejudicial, porque em muitos casos é apenas um álibi para não ser anti-capitalista.

Hoje ninguém, ou quase, tem a coragem necessária para afirmar publicamente que o nosso sistema tem que ser trocado por outro. Há críticas, sem dúvida, mas o teorema de fundo é sempre o mesmo: o sistema é bom, tem algumas arestas, mas basicamente o conceito é saudável. Misturam-se ideias diferentes, como Democracia, Liberdade, República, e apresenta-se tudo como se fosse um monólito, algo que tem de ser aceite em bloco: ou assim ou nada.

Então podemos observar um Partido Comunista que já não fala de revolução (e ainda bem, faltava só uma revolução comunista), limita-se a berrar contra os "patrões" e a pedir o aumento dos salários. Como se esta fosse a solução. Nas últimas eleições até era visível um slogan que teria sido anedótico se não tivesse sido muito triste: um Partido Comunista "patriótico". Só numa sociedade que já não sabe nem que horas são é possível falar dum Comunismo "patriótico".

Eu não sou comunista, mas esta silenciosa aceitação do sistema por parte de quem deveria constituir uma frente tipicamente popular é um dramático sinal das condições nas quais vivemos. Porque as bandeiras e as flores, assim como os sermões do dia 25, servem apenas para esconder o fascismo no qual vivemos. Um fascismo sem uma matriz ideológica tão forte como nas épocas dum Mussolini, dum Salazar, dum Franco: mas por isso ainda mais subtil e perverso, porque camuflado.

É um fascismo novo, pois os tempos mudaram: nada de camisolas pretas ou saudações romanas. Hoje o hierarca é o CEO. Atenção: não o "patrão" (termo já por si idiota), mas o executivo duma grande empresa, possivelmente multinacional.

O papel que era da Igreja Católica, sempre próxima dos poderes autoritários, foi ocupado pelos partidos políticos: são eles que agora encaminham as massas para os rituais (as eleições), são eles que falam de esperança (a luz no fundo do túnel), são eles que recolhem o dinheiro (para auto-alimentar-se e para premiar os homens do sistema), são eles que mantêm ocupado o cidadão no tempo livre (com uma boa grelha televisiva).

A única diferença é que a Igreja, pelo menos, era mais honesta: sempre disse de trabalhar para o futuro das nossas almas, não mentia acerca do presente, feito hoje de desemprego, precariedade no trabalho, exploração, insegurança, corrupção, privatizações selvagens, injustiças, usurpações. O cacete utilizado todos os dias chama-se nestes tempos "economia": já não bate nas cabeças, não é preciso, pois é muito mais eficiente tratar da nossa carteira.

Quantas vezes ainda será preciso lembrar do passado para abrir os olhos sobre o presente?
O anti-fascismo, hoje, fica à defesa do barril de pólvora enquanto tudo em volta desmorona.

A espiral descendente da Esquerda pode ser lida nos temas tratados: as condições dos imigrantes (os imigrantes?!? Fomos nós, o Ocidente, que empobrecemos até a fome aquela gente! Mas claro está, melhor fazê-los "circular" como mercadorias em vez que lutar para restituir-lhes os bens roubados), o casamento gay, o aborto, o racismo, etc. etc. Tudo muito bonito, tudo muito emocional, um tudo que serve para manter as mentes ocupadas, de forma a não poder ver qual o verdadeiro inimigo.

Isso enquanto a Direita fica cristalizada na defesa dum sistema ultra-liberal, como se este fosse o único dever duma ideologia que já viu pensadores de bem outro nível.

E, numa farsa socialmente aceite, temos que ouvir indivíduos partidários que enchem as suas bocas com termos como "Liberdade" ou "Ideais". Eles, que o máximo que fazem para este País é sentar-se (e nem sempre) na Assembleia da República e obedecer às ordens do partido. Como podem pessoas assim nem sequer falar de homens que talvez não falavam o politicamente correcto, mas que não hesitaram em fazer quando era preciso, arriscando as suas próprias vidas em prol de todos?

Este Portugal, País que tem um Presidente da República mentecapto que nunca vestiu um cravo vermelho, símbolo da liberdade reencontrada, até proibiu que os Capitães de Abril falassem este ano no Parlamento: um Parlamento que eles construiriam, com a coragem deles. Um País sem memória, que lembra dos Valores de Abril explicados por quem aqueles mesmos Valores vendeu.
O que sobrou do 25 de Abril?

A ditadura em que vivemos hoje é suave e educada: mas escraviza na mesma.
Não seria mal deixar as bandeiras no armário, pôr "Esquerda" e "Direita" na naftalina e começar a pensar num novo 25 de Abril em nome do que realmente conta: nós.


Ipse dixit.



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