Periodicamente, alguém lança o alarme: é ataco contra internet.
Pois, é desta: os Grandes Poderes vão ocupar a Web, censurar, proibir, calar.
Sério? Não. Podemos ficar descansados: ninguém quer fechar internet, nem limita-la. No futuro será provável, quase certo, mas agora não. E porquê? Porque internet é a melhor aliada dos tais Grandes Poderes.
Não estão convencidos? Então tentamos pensar.
A maioria dos blogues que fazem informação alternativa (ou alegada tal) opera na plataforma Blogger. Quem é o dono de Blogger? É Google. O Leitor sabe o que é dito acerca de Google, não sabe? A Cia, por exemplo, e não só. Não tenho provas conclusivas mas acredito que tais vozes estejam certas.
Mas aqui surge um problema: os Grandes Poderes queriam censurar um meio que já possuem e que diariamente disponibilizam para que a informação alternativa possa viver. A mesma informação alternativa que fala mal dos Grandes Poderes, de Google, que revela as obscuras tramas dos Senhores do Mundo.
Não só, mas se o serviço não funcionar correctamente até pedem desculpa. E esforçam-se para criar ainda novos canais, como Facebook (outro sócio da Cia segundo as vozes).
Não acham um pouco esquisito?
A explicação mais consensual é que os Grandes Poderes não intervêm por causa do medo. Segundo esta ideia, o mundo da informação alternativa é hoje tão poderoso ao ponto que uma eventual censura faria despoletar não se sabe muito bem o quê. Revoltas nas ruas? Como
Occupy Wall Street? Barricadas ao grito de "Ou Informação Incorrecta ou morte"? É este o grande terror?
A realidade é muito menos épica.
Tomara que este ou outros blogues fossem censurados: seria uma razão de orgulho. Bem melhor do que temos pela frente.
Porque a questão é esta. Pela frente não temos nada.
Os vários protestos, a indignação contra a censura, mesmo que reacções compreensíveis de uma certa maneira também justificadas, escondem uma necessidade ainda maior, que infelizmente permanece não atendida: a necessidade de um inimigo.
Quem na internet pensa fazer informação alternativa, as pessoas que dedicam tempo para descrever e denunciar esta ou aquela fonte de poder, no fundo acha ter um pequeno um papel activo no "minar" o sistema.
É um sentimento humano e compreensível: perceber-se das grandes injustiças e das distorções do mundo real leva ao desejo de fazer algo para "combater" o aparelho do poder.
Daí a ideia de que o trabalho possa ser "censurado", que os escritos sejam "apagados", a sensação de ter um papel real neste jogo.
Trata-se, de alguma forma, da necessidade de pôr um rosto ao inimigo, seja o governo, seja um rico empresário que controla os meios de comunicação, sejam os Illuminati, os jesuítas ou os Reptilianos: em qualquer caso é forte a necessidade de ter um ponto de referência quando a intenção é criar uma luta, é preciso ter uma entidade concreta considerada como "inimiga".
Infelizmente, esse inimigo não existe: ou melhor, existe mas não tem um único rosto.
A verdadeira tragédia do mundo ocidental nos dias de hoje, para todos aqueles que percebem do estado doentio do nosso sistema, é a impossibilidade de definir um verdadeiro alvo contra o qual lutar.
É frustrante analisar os mecanismos do poder, poder expo-los, sem que nada aconteça.
Sem que o "poder" reagia de qualquer forma, sem sequer uma ameaça de censura.
Durante os regimes totalitários do passado, era suficiente mostrar um pequeno sinal de descontentamento em relação ao ditador do momento para ser imediatamente apanhado e colocado na prisão. Situações horríveis, sem dúvida, e nós temos a sorte de não ter que viver em tais regimes.
Mas, a partir de outro ponto de vista, quem na época era realmente um homem, tenha a possibilidade de mostrar até o fundo a natureza dele. Havia algo de concreto para enfrentar, um sentido para a sua sede de justiça.
Hoje, para nós, essa possibilidade é negada.
Percebemos claramente a essência hipócrita e desonesta do actual sistema de poder corrupto, mas também sabemos que não temos maneira rápida e "heróica" para reagir.
Desabafando na frente dum ecrã, por alguns momentos gostaríamos de nos convencer de fazer algo de "subversivo", inovador, até revolucionário.
Mas não é: em contraste com o totalitarismo do passado, o regime no qual vivemos actualmente tornou-se muito mais subtil e a opressão directa fui substituída por um véu de indiferença geral, coberto pelo ruído de fundo do infinito fluxo de informações- lixo e distracções oferecidas pelo sistema de comunicação.
Haveria mais para dizer? Sim, haveria, pois nem tudo está tão limpo.
Há sites de informação alternativa criados para colaborar com os Grandes Poderes, outros que colaboram de forma inconsciente, e tudo isso é funcional à manutenção do
status quo, as condições actuais.
Mas para evitar o Leitor adormeça com o rato na mão, o artigo acaba aqui.
Fica só a amarga conclusão: nunca vamos poder observar o olho do dragão.
Ou, como escrito há uns tempos: não é tempo para heróis.
Ipse dixit.
Fonte: ideias surgidas após a leitura dum excelente (e velho) artigo de Tra Cielo e Terra.
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