Quando as pessoas tomam as ruas de Madrid, de Bruxelas, do Cairo, de Beirute... não reclamam o que nós aqui, como socialistas convencidos queremos defender, reclamam o que o problema do capitalismo do livre mercado lhe causou com as suas consequências.
O que importa é que, infelizmente, não são os socialistas do mundo que têm incentivado a sair para as ruas ou a mexer-se, e o que temos de lamentar é que eles estão a pedir democracia, liberdade, fraternidade, estão a pedir educação pública, uma saúde pública e nós não estamos lá. [...]
E também aproveito para dizer que estou muito surpreendida por como pretendemos mover uma revolução a partir de um hotel cinco estrelas em Cascais, chegando em carros de luxo. Eu pergunto-me se realmente podemos dar aos cidadãos uma resposta quando vocês, líderes políticos, dizem que compreendê-los, que sofrem porque são socialistas. Realmente sentimos a dor aqui? Realmente entendemos o que pedimos ao mundo a partir de um hotel de cinco estrelas? Realmente estamos preparados para dar essa imagem ao mundo?
Os jovens, é claro, não concordam com vocês quando tomam essas decisões e não vamos apoiar esta linha. Estamos aqui para trabalhar. E aproveitar a oportunidade para dizer que é muito triste ter que pedir de joelhos para que seja permitido falar aqui neste fórum, é muito triste ter que pedir de joelhos para ser ouvidos. Porque não é vossa intenção ouvir-nos. Porque os jovens não estão aqui somente para trabalhar como parte do staff com os camaradas de Portugal.
Os jovens estão aqui para apoiar-vos, para trabalhar com vocês e para dar a cara por vossa conta na rua. Porque agora os jovens do mundo estão a pagar as consequências, os que não têm emprego, não podem emancipar-se, não podem ficar grávidas com 30 anos porque não têm um trabalho, apesar de ser a geração mais instruída, estamos comprometidos com vocês aqui. E vocês, os líderes, assim chamados porque são responsáveis, não apenas rostos bonitos, vocês são responsáveis pelo que está a acontecer, vocês deveriam sentar-se connosco e entender o que queremos e o que temos para oferecer.
Não só para aplaudir, não só para ocupar os lugares e os espaços com rostos bonitos e caras jovens, não apenas para pendurar cartazes.
A juventude das vossas organizações, os que têm de transmitir a mensagem, não são aqueles escolhidos por vocês porque mais confortáveis e muito cúmplices. Os jovens aos quais têm que conceder a palavra devem ser eleitos em processos democráticos nas vossas organizações.
E sim, infelizmente, dependemos demasiado do partido porque precisamos de financiamento para ser livre. E aqui, neste momento, gostaria de dizer que a juventude da Internacional Socialista não tem nenhum apoio da Internacional Socialista.
Temos muito para dizer, porque as pessoas estão interessadas em saber o que os jovens pensam, porque somos nós que estamos pagando as consequências das vossas acções ou da falta de acção.