A Nato e as suspeitas
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A Nato e as suspeitas


Como relatado, nos últimos dias a aviação militar russa parece ter repetidamente violado o espaço aéreo europeu. Na prática, todos os órgãos de informação (todos, sem excepção) repetiram quanto escrito no comunicado que a Nato lançou no dia 30 de Outubro.

O mesmo comunicado especificava que todos esses aviões voavam no "espaço aéreo internacional", isso é, o espaço livre que fica acima das zonas marítimas (no meio do mar): nenhum avião voava em direcção das costas. Todavia, é interessante realçar como, apesar do comunicado da Nato ter sido formalmente correcto, a maioria dos órgãos de informação utilizaram tons alarmistas, apresentando a situação como fosse "de risco" (uma espécie de invasão).

A razão é simples: o facto da Nato ter emitido um comunicado acerca da actividade russa foi lido como algo "invulgar" e digno da máxima atenção. E era mesmo este o objectivo da Aliança Atlântica: espalhar com um comunicado formalmente correcto a "psicose da invasão", contando com o vício sensacionalista dos media.

Objectivo alcançado: nos últimos dias de Outubro era só ligar a televisão para ter a impressão de que a Armada Vermelha tivesse ocupado os céus da Europa toda.

Se a situação internacional não melhorar, será bem preparar-se para outros acontecimentos do mesmo género. E não esperem de conhecer o que se passa "do outro lado": no dia 18 de Julho, um avião militar dos Estados Unidos (um Boeing RC-135) entrou sem autorização no espaço aéreo da Suécia, País que nem faz parte da Nato. Mas alguém ouviu algo? Nada de nada.

Em vez disso, são enfatizadas autênticas pseudo-notícias. O diário La Repubblica do dia 30 de Outubro relatava quanto acontecido no Reino Unido onde alguns caças da força aérea militar inglesa ameaçaram abater um avião de carga russo que parecia dirigir-se sobre Londres.

Mas de russo o avião tinha apenas o nome: era um Antonov An-26 da Lituânia, partido de Italia, com paragem em Paris e destino Londres. Quantos Leitores de La Repubblica foram verificar (simplesmente no Wikipedia, por exemplo) que um Antonov An-26 nem teria autonomia suficiente para uma viagem directa Rùssia-Londres?

Poucos dias antes (17 de Outubro), a Suécia tinha relatado a presença de um submarino nas águas do Mar Báltico. Imediatamente espalhou-se na imprensa internacional a ideia de que fosse um submarino russo (eis outra prova da "invasão"). Foi a Rússia, e não a Nato, que revelou como na zona a marinha holandesa (com submarinos) estivesse empenhada em exercícios. Mas a Holanda disse que não, o submarino não era seu: e dado que a Holanda nunca mente (pois faz parte da Nato) e nunca iria entrar no espaço territorial dum País neutral (a Nato não faz coisas destas), lógico que seja Moscovo a mentir.

A Nato, com uma atitude séria, poderia ter emitido um comunicado para acabar com as vozes, ou num sentido ou no outro (mesmo que fosse para confirmar a versão holandesa): mas preferiu cavalgar a vaga das suspeitas, deixando que o clima da "psicose da invasão" se espalhasse. A Nato sabe que o que importa é o "primeiro impacto" que as notícias podem ter sobre os Leitores. As desmentidas, as provas apresentadas mais tarde, não têm o mesmo efeito ou até passam despercebidas (qual diário iria publicar algo como "Desculpem, exagerámos um bocado"?).

E os frutos aparecem, é só esperar.
No dia 21 de Outubro, fontes dinamarquesas têm relatado uma nova e misteriosa manobra sempre no Mar Báltico: um petroleiro russo (com bandeira da Libéria...) ao longo de cinco dias procedeu em zig zag, algo que segundo Copenhaga seria anti-natural e que precisa de investigação. Doutro lado, é sabido que as cruéis forças russas atacam sempre com manobras em ziguezague para confundir os inimigos, sobretudo se dinamarqueses....

Nestes últimos dias a psicose da invasão acalmou. Mas é uma pausa, não o fim: nos próximos tempos a Nato continuará a pintar a Rússia com tons cada vez mais escuros, enquanto ficará calada (tal como fez até hoje) acerca das suas próprias actividades.

Seremos informados acerca de cada movimentação, atitude, intenção ou ideia "suspeita", real ou não, mas sem o direito de ter um quadro completo da realidade (por exemplo, sabendo o que as forças na Nato fazem).


Ipse dixit.

Fonte: La Repubblica (1, 2), Ansa



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