É Domingo, e como é tradição há 40 anos, Domingo no blog é dedicado ao assunto: Alimentação.
Amanhã, como é óbvio, voltaremos aos assuntos do costume. Mas agora: Alimentação. Já tinha dito? Ok, ok...
Breve parênteses: não é que Informação Incorrecta se tenha tornado um blog de dietólogos. É que não há verdadeiras novidades neste início de 2013 e não gosto de repetir sempre as mesmas coisas.
Além disso, com a comida engolimos quantidades assustadoras de produtos químicos que, dizem, fazem bem. Pode ser, mas tenho algumas dúvidas e é sempre bom saber o que engolimos.
Depois é sempre bom variar um pouco.
Por isso, eis um curto panorama acerca das últimas novidades.
Franky, o novo salmão
Nas mesas americanas, além do milho, agora é possível pôr o salmão geneticamente modificado. A FDA (
Food and Drug Administration), avaliou o peixinho modificado e disse que sim, é mesmo bom e não faz mal.
O que tem de diferente o salmão OGM? Tem dois genes que pertencem a outras espécies: um do salmão que vive no Oceano Pacífico e um duma enguia.
O salmão Frankestein assim criado pode crescer mais rapidamente (16 meses em vez que 30) e fica também maior. A FDA afirma que o salmão Frankestein é tão parecido com a versão normal que até poderia nem ser preciso avisar os consumidores no rótulo das embalagens.
E já que o assunto é salmão: esqueçam os velhos pescadores que na barracas fumam pacientemente o bom peixinho. Hoje, a maioria do salmão à venda é fumado com injecções de químicos.
Camarões de carne
Como fazer um camarão artificial? Simples: 75 kg. de carne (as sobras), 2,5 kg. de amido, 26 litros de água, corantes, sal, aroma de camarão. Misturem tudo e depois dêem a forma dum camarão.
Vantagens? Muito mais barato do que pagar os pescadores. Tão barato que os camarões assim criados já estão à venda. Claro, não é legal. Mas distinguir o falso do original não é tão simples.
Caso encontrem camarões particularmente baratos, desconfiem: pode ser o parente próximo do wurstel.
Obviamente tudo isso é ilegal. Mas há empresas que gostam de poupar.
Gostam demais.
As bolachas e a acrilamida
Há pessoas que comem bolachas de arroz por questões de saúde.
Verdade, as bolachas em questão (aquelas redondinhas, com arroz que parece ter sido prensado) têm o mesmo sabor da esferovite, mas, se o discurso for a saúde, é sempre melhor do que o pão.
As bolachas são produzidas com a mesma técnica do plástico, a extrusão: só que em vez do plástico é utilizado arroz. Este entra numa máquina na qual é submetido a uma elevada temperatura (200 ºC) e uma enorme pressão (10 vezes a normal pressão atmosférica). A passagem na máquina é rápida e o arroz assim tratado é empurrado depois para furos e bem comprimido em forma de bolacha (é o mesmo processo com o qual são produzidos os
corn flakes).
Até aqui tudo bem, não há nada de mal, excepto o sabor de esferovite. O problema é que estas bolachas têm o dobro das calorias presentes no pão integral. E não só. As análises têm demonstrado que o processo de extrusão destrói as vitaminas naturalmente presentes no arroz, elimina a lisina (um aminoácido muito útil ao nosso organismo) e há suspeitas de que as elevadas temperaturas e pressão possam criar acrilamida (derivada do ácido acrílico, o mesmo utilizado nas tintas e no plástico), uma substância conhecida por ser cancerígena.
A boa notícia é que a mesma extrusão torna o amido das bolachas mais digerível. Mas é também verdade que um amido facilmente digerível pode ter um alto teor glicémico.
Resumindo: têm fome? Comam um pedaço de pão.
Açúcar, cal e carvão
O açúcar. E quem não gosta de açúcar? Por acaso conheço um par de pessoas que não gostam dele, mas vamos ignorar.
Agora, a dúvida é: como é produzido o açúcar? Como é que fica tão simpático e branquinho?
Tudo começa com uma beterraba ou uma cana de açúcar, das quais é extraído um líquido denso de cor acastanhada. Mas o açúcar é branco: uma magia?
Nada disso, o líquido extraído é refinado, o que significa o seguinte: é lavado com leite de cal, depois, para eliminar os resíduos, é tratado com dióxido de carbono. Resultado: uma cor escura, pouco atractivo: então eis um banho de ácido sulfuroso e a seguir uma cozedura, um resfriamento e a cristalização. Depois uma centrifugação também, que nunca fica mal.
Para acabar, falta só filtrar e descolorar tudo com carvão activo.
O resultado final é uma substância branca, cristalina, que de natural tem muito pouco. Em particular, foram destruídas todas as proteínas, os enzimas, os sais originariamente presentes. "Pouco mal", podemos pensar. Mas não é o mesmo que pensa o nosso organismo que, quando tem que digerir esta "coisa", tem que reconstruir parcialmente a cadeia dos elementos destruídos, subtraindo substâncias nutritivas ao corpo.
No Youtube existe também um vídeo da série
How it´s made, (de Discovery Channel) mas encontrei apenas a versão italiana e inglesa.
As batatas fritas saudáveis
As batatas fritas fazem mal? E quem disse isso?
As batatas fritas fazem bem, e não é brincadeira. O que faz mal é o método utilizado para frita-las.
Um frito correcto permite que o óleo seja absorvido apenas na proporção de 5% e, no caso das batatas, o amido naturalmente presente (granuloso e rico em amilopectina) torna-se na melhor barreira para travar esta absorção.
Desta forma, os fritos são uma óptima fonte nutricional.
Todos em fila no mais próximo McDonald's para comprar uma dose maxi de batatas fritas? Nada disso. Aliás, fiquem afastados disso, porque para que o frito faça bem é preciso que seja executado da melhor forma.
Que não é aquela dos
fast food.
Para fritar bem:
- O óleo utilizado deve ser o azeite extra-virgem ou amendoins. O óleo de girassol é muito sensível ao calor.
- Nunca utilizar o mesmo óleo duas vezes
- Nunca permitir que o azeite atinja o "ponto-fumo", altura na qual desenvolve ácidos de oxidação que podem ser até cancerígenos. Se o azeite (ou qualquer outro óleo utilizado) começar a libertar fumo, deitem no lixo.
- Utilizar muito óleo: quanto mais óleo, quanto menos tempo será necessário para fritar e o interior da comida absorverá menos gordura. Pela mesma razão: fritar pedaços pequenos de comida, que necessitam de menos tempo.
- Utilizar uma mistura de água e farinha para envolver a comida antes de fritar: a mistura absorve mais óleo e, também neste caso, o interior da comida fica menos gorduroso.
10 coisas más que fazem bem
E concluímos com as 10 coisas "más" que fazem bem. E fazem mesmo.
1. SexoO minha nossa: o sexo! Pois...pelos vistos, combate a depressão, melhora a circulação e reduz o colesterol.
2. Chocolate amargoMais cacau puro significa mais flavonoidos, que combatem a degeneração celular.
3. Vinho tintoContém resveratrolo, que é anti-inflamatório e fluidifica o sangue.
4. MarijuanaContrariamente a quanto geralmente afirmado, melhora as capacidades mnemónicas e previne a demência.
5. Raios solaresSim, sim: o buraco no ozono, os raios cósmicos, o cancro da pele e tudo o resto. Mas o sol é uma insubstituível fonte de vitamina D, fundamental para a sobrevivência.
6. LSDLSD? Ele mesmo. É um óptimo coadjuvante no caso de alcoolismo: ajuda as pessoas a libertar-se da dependência das bebidas. Provavelmente nem se lembram o que é uma bebida...
7. CaféO café enerva, faz mal ao coração, etc. Mas ajuda o pâncreas, previne a diabetes e o envelhecimento das células.
8. RaivaÉ um sentimento negativo, não há dúvida: mas se guardada pode desencadear várias patologias. Liberta-la, de vez em quando, faz bem. Um "desabafo" pode ajudar contra a depressão, distúrbios do sono, dos pulmões, do coração, etc.
9. CervejaDepura e ajuda o sistema circulatório. E sabe bem.
10. LagartasTratam as lesões, têm uma forte propriedade anti-inflamatória. O problema é conseguir a coragem para engoli-las...
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Como em todas as coisas da vida: é uma questão de medida.
Ipse dixit.
Fontes: muuuuuuuitas, mas muitas mesmo. Entre todas, destaque para Yourself, Il Fattaccio, Mangia Consapevole, e, sobretudo, Lo Sai, uma associação de cidadãos.
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