Querido Leitor,
você não tem mais nada para fazer na vida, não é? Sempre aqui, a ler a Breve História da Economia...mas fique feliz, pois hoje merece: começamos a falar de Marx!
Antes de avançar: querido Leitor, faça o favor de apagar do seu cérebro termos como "comunista", "revolucionário", "leninista". Estas coisas não tem nada a ver com o assunto: aqui fala-se do Marx economista, porque é isso que ele basicamente foi. E, provavelmente, foi o maior entre os economistas assim chamados "clássicos" (Adam Smith, Robert Malthus, David Ricardo). Que depois possa ter descarrilado com as ideias políticas, bom, este é outro discurso. Mas como economistas está fora de discussão (onde está escrito que um excelente economista possa ser um excelente político também?).
Marx não era um revolucionário, sempre agitado com uma bandeira vermelha na mão. Aliás, era um tipo bastante tranquilo, mesmo tendo passados uns bons bocados na juventude. Foi um eminente estudioso, que depois foi tomado como modelo ideológico por milhões de seres humanos em tempos diferentes. Com as consequências que conhecemos.
Isto é importante, porque os críticos de Marx vão dizer que era um louco subversivo e outras amenidades. Mas não: Marx era um cientista da economia, então podemos não concordar com as ideias dele, mas nunca podemos afirmar que o gajo não tivesse cérebro (económico).
Segunda coisa a saber: após os já citados Smith, Malthus e Ricardo, chegou Marx e fechou-se desta forma o período clássico do pensamento económico. Também isso é importante, porque depois houve um movimento contrário que será chamado de Economia Neo-Clássica, cujos efeitos também chegam até os nosso dias.
Agora vamos ver este Marx.
Karl Heinrich Marx era uma alemão (ninguém é perfeito) de origem hebraica (mas alguns conseguem ser piores); entrou na cena por volta de 1860 como importante pensador que formulou a teoria do
valor do trabalho.
O que isso significa? Bom, os economistas da época ainda estavam a bater as cabeças contra a parede na tentativa de resolver o quesito: "quem produz a riqueza?". E, claro, na época dos reis e dos nobres parasitas a resposta era "os reis e os nobres parasitas produzem a riqueza". Resposta aparentemente óbvia, por razões de saúde (um economista enforcado não tem muito futuro) e porque os estudiosos nem imaginavam que o povo pudesse ter algumas funções além das reconhecidas aos animais.
Marx foi o primeiro a olhar para o problema com inteligência e respondeu: "A riqueza é criada apenas pelos trabalhadores, são eles que quebram as suas costas no trabalho, e a única razão pela qual a riqueza estiver nas mãos dos reis e dos nobres parasitas é porque estes exploram-os". Ou "exploram-los". Ou "exploram eles". Também Marx ficou com esta dúvida e decidiu escrever: "exploram os trabalhadores".
Atenção, querido Leitor: Marx reconhece que qualquer produção só pode começar do dinheiro, porque é com este que é criada a empresa, a fábrica e o trabalho todo. A formula é :
dinheiro > produção > dinheiro. E este é outro ponto que temos de lembrar, pois mais tarde o princípio será virado de avesso (com resultados horríveis).
Então, vamos ver o núcleo do Marx-pensamento. É esta a conhecida história da luta de classe e do Capitalismo que entrará em colapso, de acordo com as previsões dele.
A base do raciocínio é simples: dado que são os trabalhadores que produzem toda a riqueza, um dia eles vão perceber que não precisam dos capitalistas, dos Reis e dos nobre parasitas que exploram tudo e todos. Assim, sem tantas cerimónias, os trabalhadores tomarão posse dos meios de produção.
Fim da história. Este é o Socialismo.
Mas exactamente por qual razão os trabalhadores irão ficar exasperados? Não apenas por causa da exploração em si, mas também por outros dois motivos:
- Os trabalhadores produzem um valor, parte deste é utilizado para viver, mas uma boa parte é mais do que isso, é um valor acrescentado (uma mais valia) que fica nas mãos dos donos dos meios de produção. Os trabalhadores, afirma Marx, têm o direito de partilhar entre eles também esta mais valia, portanto, cedo ou tarde, surgirá o desejo de possuir os meios de produção.
O conceito é simples. Um trabalhador pode produzir 10 par de sapatos e vende-los por 10 Euros cada. No final do dia, terá ganho 100 Euros e isso será mais do que suficiente para viver. Até poderia não trabalhar no dia seguinte. Mas que acontece na realidade? Acontece que na fábrica o trabalhador produz 100 par de sapatos por dia, e estes não ficam na posse dele, mas do dono dos meios de produção. O qual vende os sapatos por 10 Euros cada, ganha 1.000 Euros: 100 são o salário do trabalhador, 100 as despesas de produção, 100 as taxas, o resto é lucro. Simplificando (na realidade Marx é mais específico), o lucro representa a mais valia.
- Esta valor acrescentado pode ser produzido apenas por trabalhadores reais (o trabalho vivo), diz Marx. Porquê? Bom, porque o valor acrescentado produzido, para ser um valor, deve ser vendido e gerar lucros (um par de sapatos no armazém não geram lucros), correcto ? Portanto, deve existir alguém com dinheiro que compre os sapatos, e este "alguém" é a pessoa que recebe um salário. Mas, naquela época, em finais do século XIX, os capitalistas estavam a substituir o trabalho vivo com as máquinas (o trabalho morto), portanto Marx previu que as máquinas não podem produzir o valor acrescentado (a mais valia), não por falta de capacidade, mas só porque o valor acrescentado é tal apenas se alguém compra-lo.
Tem lógica. Uma máquina pode bem produzir um par de sapatos, mas ao fazer isso retira o trabalho e o salário duma pessoa que fica desempregada. E quem compra sem dinheiro? As máquinas produzem, não podem comprar. Só o trabalhador pode produzir e depois comprar. O trabalhador, portanto, não apenas gera a mais valia como também transforma a mesma num valor real. É o trabalhador que produz mais sapatos do que necessário para a vida dele (gera mais valia), é sempre o mesmo trabalhador que adquire os sapatos (a mais valia torna-se lucro).
Marx prevê que os capitalistas, que estão cada vez mais a utilizar máquinas, perdem lucros, entram em falência e a economia cai no abismo. Neste ponto, os trabalhadores fartam-se dos capitalistas, das maquinas e também dos sapatos: começa a revolução dos assalariados descalços.
Marx disse isso? Pois disse.
E disse mais alguma coisa? Por acaso disse. Mas isto fica para o próximo capitulo.
Ipse dixit.
Relacionados:
Breve mas interessante história da economia - Parte I
Breve mas interessante história da economia - Parte II
Breve mas interessante história da economia - Parte III
Fontes: Paolo Barnard, Wikipedia (versão inglês)
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