Querido Leitor,
Economistas Clássicos, Neo-Clássicos, e agora?
Agora estamos perante uns 40 anos complicados: é o período entre as duas guerras mundiais. Porque dum lado há as ideias de Marx, ideias que inflamam um monte de pessoas na Europa e mais além ainda; do outro lado há os economistas Neo-Clássicos, muito menos "espectaculares", que trabalham como loucos para resistir ao marxismo.
Simplificando muito, podemos dizer que o início do século XX vê uma economia de raiz social/socialista espalhar-se de forma muito rápida, especialmente entre as pessoas comuns e determinados círculos intelectuais, e uma economia minoritária elitista, os Neo-Clássicos, que começa a obter financiamento das classes superiores.
Do primeiro grupo faz parte também o anarquismo, do qual pouco ou nada se fala hoje, mas que na época era fenómeno notável. Os principais pensadores neste sentido são Pierre Joseph Proudhon, Mikhail Bakunin e Kaspar Schmidt. Como o querido Leitor sabe, agora quando alguém dizer "anarquismo" a ideia é logo "caos", mas isto é falso. Os anarquistas da época eram intelectuais finos e complexos, muitas vezes até fanáticos, pessoas que não tinham medo de sacrificar-se em acções suicidas para chamar a atenção contra as injustiça social (como a fome do povo ou o desejo de liberdade deste).
Um tempo estranho estes quarenta anos, porque as guerras são um enorme motor económico, e, paradoxalmente, produzem destruição por um lado e grande economia do outro. Na guerra, uma Nação precisa de uma enorme quantidade de recursos, portanto utiliza quase todos aqueles que estão em idade de trabalhar para produzir, à custa do Estado, muitas vezes chegando quase ao pleno emprego. Depois, há a reconstrução, e aí correm rios de dinheiro. Agora, é claro que na altura eram as elites aquelas que ainda tinham a maioria da riqueza, mas forma as economias de guerra que deram um impulso económico para as classes inferiores, de forma a torná-las mais conscientes dos direitos delas.
E aqui aparece um homem chamado Lenine, que como economista faz uma coisa simples: pega Marx, ou seja as ideias dele, adiciona o Estado imperialista, tipo o Reino Unido das colónias ou a Rússia dos czares, e conclui que o Estado acaba sempre por estar ao lado da elite. Estado e elite criam o imperialismo, na mente de Lenine a versão moderna do velho Capitalismo do qual Marx tinha falado.
Então Lenine apanha um comboio, não paga o bilhete e é feito descer em Moscovo, onde começa a Revolução de Outubro. Querido Leitor, onde encontra um blog que explique a revolução da Rússia em 21 palavras?
Mas no meio destes quarenta anos há um par de coisas que devem ser realçadas.
A primeira é que os fascismos europeus têm todos a mesma característica e seguem do ponto de vista económico uma dupla estrada paralela: uma retórica em favor do povo, visto como um motor para ser alimentado, mas apenas com o propósito de sufocar a ordem social e criar soldados para as guerras. O que de facto leva a uma marginal melhoria das condições de vida das pessoas mais desfavorecidas. A segunda estrada é mais simples ainda: a maior parte da economia continua nas mãos dos industriais e dos latifundiários Neo-Mercantilistas, os herdeiros dos parasitas feudais.
A segunda coisa a notar é o fenómeno da hiper-inflação da República de Weimar, algo que ainda é
utilizado para nos assustar e para selar a boca daqueles que gostariam de uma intervenção monetária do Estado para criar riqueza.
Pois, querido Leitor, é isso mesmo: a imagem popularizada de Weimar é que o Estado alemão, após a derrota da Primeira Guerra Mundial, começa a imprimir dinheiro como fossem rebuçados e isso leva a uma inflação tão catastrófica que as pessoas vão a comprar o pão baldes cheios de notas de 100 biliões de Marcos. A segunda parte é verdadeira, mas a primeira é totalmente falsa.
O problema é que ainda hoje, quando alguém dizer "Precisamos de mais gastos do Estado para impulsionar a economia", eis que aparece o génio da turma e começa a gritar "Weimaaaaar" e todos ficam calados.
Então, o único actor que poderia salvar-nos da catástrofe da Zona NEuro, isto é, um Estado com uma sua própria moeda soberana investida, é excluído do debate por causa do medo da hiper-inflação de Weimar. E o povo fica contente por ter eleito tamanhos políticos que criam desemprego, baixam os salários, cortam as reformas, apagam serviços, pioram a economia, mas conhecem (assim dizem) Weimar.
Mas querido Leitor, o que realmente acontece durante a República de Weimar?
Acontece o seguinte: a Alemanha perdeu a Primeira Guerra Mundial e com o Tratado de Versalhes os vencedores decidem que deve pagar os danos de guerra. Ok, está certo. Mas o que está errado é forçar Berlim a pagar muito, e de forma demasiado rápida. Então o que faz o governo alemão? Obrigado a pagar, começa desesperadamente a produzir para exportar e ganhar assim o suficiente (especialmente ouro) para pagar estas dívidas colossais. Ao mesmo tempo, a França e a Bélgica tinham ocupado uma das regiões mais produtivas da Alemanha, a Ruhr.
Então querido Leitor, tu sabes que a inflação aparece especialmente quando um País tem muito dinheiro e muitos poucos produtos para comprar, certo? E acabámos de dizer que a Alemanha é forçada a exportar uma montanha de produtos para pagar as dívidas e que a super-produtiva Ruhr já pertence aos vencedores. Na Alemanha, os produtos disponíveis para o consumo interno tornam-se cada vez mais escassos. E depois não podemos esquecer que o governo ainda toma uma parte da produção para o funcionamento dele.
Qual é o resultado? Muitos produtos são "sugados" por estes factores e as pessoas não têm muito para comprar. O governo, então, para não agravar a exasperação dos cidadãos, decide não cortar os salários ou taxar para conter a inflação: e continua a imprimir dinheiro por causa destes motivos. Portanto, na República de Weimar, os produtos são escassos, as pessoas tomam o salário e o Estado também, no sentido de que imprime dinheiro para as necessidades dele. Governo e cidadãos competem um contra os outros para comprar os poucos produtos disponíveis; o dinheiro é produzido mas não investido, continua a circular e sobretudo a acumular-se: e a inflação aparece, desastrosas.
Resumindo: em Weimar há sim demasiado dinheiro, mas só porque com o Tratado de Versalhes os vencedores criam um mercado com poucos recursos, poucos produtos, com dinheiro criado que não tem "saída" e nem pode ser gasto (nada de investimentos mas nada de simples compras também), enquanto o governo alemão faz graves erros na gestão da crise.
Como podes ver, querido Leitor, a história não é tão banal como os economistas falsários na moda hoje. Weimar e a hiper-inflação aconteceram porque houve um determinado conjunto de condições extremas, de proporções históricas; o que é um pouco diferente da simples ideia de "criar demasiado dinheiro", não acha?
Entre outras coisas, na altura houve um grande economista inglês que tinha previsto tudo para Weimar, e disse antes do que os outros que os impossíveis pagamentos da Alemanha teriam criado não apenas a hiper-inflação, mas também outros efeitos ruins...pois, Hitler. Adolfo, o pintor falhado, jamais teria chegado ao poder se não tivesse sido pela catástrofe de Weimar.
Mas daquele economista, tal John Maynard Keynes, vamos falar nos próximos capítulos...
Ipse dixit.
Relacionados:
Breve mas interessante história da economia - Parte I
Breve mas interessante história da economia - Parte II
Breve mas interessante história da economia - Parte III
Breve mas interessante história da economia - Parte IV
Breve mas interessante história da economia - Parte V
Breve mas interessante história da economia - Parte VI
Fonte: Paolo Barnard, Wikipedia (versão inglesa)
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