Como escrever um artigo sobre a "realidade" israelo-palestiniana
Conspiração

Como escrever um artigo sobre a "realidade" israelo-palestiniana


 

Para um jornalista, falar do médio-oriente deve ser feito com grande prudência para não chocar a opinião pública, sobretudo se se trata de Israel. Com grande humor, Michel Collon deixa aqui algumas regras para evitar de se ser acusado de ter uma opinião tendenciosa.

 

 

- Não esquecer que são sempre os árabes que atacam, Israel apenas se defende e sempre como retaliação.

- Quando as forças armadas matam civis árabes fá-lo sempre em legitima defesa. Quando civis israelitas são mortos chama-se a isso terrorismo. 

- Os israelitas não raptam civis palestinianos, capturam-nos. Não esquecer de referir a necessidade de segurança para explicar esses raptos.

- Inversamente, os palestinianos e libaneses não estão habilitados a capturar israelitas. Se o fazerem, deve ser utilizado a palavra rapto.

- Não dever ser mencionado o número de prisioneiros palestinianos (11000, dos quais 300 crianças) capturados actualmente. Se, apesar de tudo, os referir, qualifique-os de terroristas ou supostos terroristas.

 - Utilize o menos possível o temo palestiniano, prefira o termo árabe, que é o utilizado oficialmente pelo governo israelita para designar os habitantes não-judeus nos dois territórios.

- Quando mencionar o "Hezbollah" acrescente sempre a expressão: apoiado pela Síria e o Irão. Mas quando falar de Israel, é escusado acrescentar que é apoiado pelos USA e a Europa. Pode fazer crer que se trata de um conflito desequilibrado.

- Não utilize o termo "territórios ocupados" mas sim territórios contestados. A esse propósito é preferível dizer Judeia-Samaria em vez de Cisjordânia.

- Nunca lembrar as várias resoluções da ONU ou convenções de Genebra desfavoráveis a Israel. Mesma coisa para as condenações do Tribunal de Justiça da Haia... Isso pode perturbar o leitor, telespectador ou auditor.

- É preferível não dizer armada israelita, mas sim uma qualificação mais simpática de Tsahal.

- É de bom ton deixar entender que o "Hamas" é um grupo terrorista que não reconhece o Estado de Israel. Sobretudo não referir o reconhecimento feito em 2002.

- Não referir que Israel sempre se recusou fixar as suas fronteiras e não reconhece a Palestina.

- A palavra colonato deve ser banida dos seus textos, utilize o termo implantações.

- Para afirmar a simetria do conflito, nunca deve ser evocado o expansionismo israelita, diga sempre que são dois povos que disputam um mesmo território.

- No caso em que tenha que evocar os projectos de desenvolvimento nuclear iranianos, não vale a pena insistir sobre o arsenal nuclear militar israelita... Sobretudo não assinale que é a 6ª potência mundial nesse domínio.

- Se deve falar da rejeição palestiniana de aceitar as condições israelitas para por fim às hostilidades, acrescente sempre que "Israel considera que já não existe qualquer parceiro para negociar o processo de paz"... Se possível utilize um tom de lamentação.

- Se tiver de citar o "muro de separação", nunca diga que este foi erguido sobre terras palestinianas anexadas, não esqueça é de mencionar que ele foi erguido para acabar com os atentados terroristas... E sobretudo não refira que o Tribunal Internacional de Justiça ordenou o seu desmantelamento.

- Ao falar dos opositores a Israel nunca utilize as palavras resistentes ou militantes... Fale sempre em activistas. Mesmo que estes se manifestem unicamente pela paz, eles devem ser qualificados de pro-palestinianos.

- No caso de haver uma nova operação para furar o bloqueio de Gaza, utilize expressões como "estes navios de pretensos pacifistas" ou "acto de provocação".... e sobretudo evite os comentários do estilo "bloqueio ilegal de Israel, condenado pela ONU".

- Se tiver a oportunidade, afirme que Israel é a única democracia do Médio-Oriente. Evite, claro de acrescentar que essa qualidade só se aplica à população branca e judia do país.

- Não faça qualquer critica à vontade do actual governo de transformar o termo Israel em Estado Judeu, o que exclui os 20 % da sua população muçulmana. Evite sempre as referência religiosas.

- Como os israelitas falam melhor francês que os árabes, deixe-os falar frequentemente. assim poderão explicar-nos melhor as regras anteriores e afirmar assim a sua neutralidade jornalística.

 

Nota importante:

Nos casos em que certos colegas seus infringissem estes regras, deverá prevenir os responsáveis do meio de comunicação. É um dever de cidadão de sinalizar todas as derivas antissemíticas.

 

Texto de Michel Collon, tradução Octopus


http://www.michelcollon.info/Comment-ecrire-un-article-sur-la.html?lang=fr

 




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