Informação Incorrecta tem com o Geab um relacionamento que mais parece aquele dum alcoólico: "esta é a última vez, depois paro". E o vício continua.Por trás da decisão da Fed de reduzir gradualmente o seu programa de flexibilização quantitativa [o QE, ndt], escondem-se realidades diferentes. A primeira é, naturalmente, a sua ineficácia em reanimar a economia real e, acima de tudo, o risco considerável de criação de bolhas e dependências várias, com o consequentemente risco de distorcer qualquer capacidade de compreender a realidade.
A segunda é provavelmente o desejo de espectaculizar o facto de que a situação melhorou e que a Fed pode, consequentemente, retirar-se de forma segura .
A terceira é a menos confessável: a Fed está ciente de que os mercados emergentes dependem em grande parte do dinheiro que ela própria tinha criado em 2013, sabia, então, que o anúncio da redução era equivalente a uma maldade. Desde então, de facto, as manchetes da imprensa financeira têm tratado apenas da crise nos países emergentes, enquanto a situação dos Estados Unidos tornou-se um facto de importância secundária.
A flexibilização quantitativa da Fed levou para os mercados um excesso de liquidez, que foi investida onde as dinâmicas de produção ofereciam as melhores oportunidades de investimento e lucro: isso é, nos mercados dos países emergentes. Este rio de dinheiro fácil, é claro, apoiou de forma artificial o crescimento, que teria sido menor nestes tempos de crise.
O QE nunca foi destinado a ajudar os desempregados dos Estados Unidos. O que a Fed fez foi fornecer ao capital uma enorme quantia de dinheiro que depois os investidores rentabilizaram na melhor das formas: empregando-o naquele Países onde a mão de obra for mais barata, onde os custos de produção são inferiores, onde as dinâmicas do mercado são mais vivas e não deprimidas como na América do Norte ou na Europa.Pior ainda, desde 2013 o QE provocou o renascimento da lógica do "mundo de antes". O dinheiro foi usado para emprestar ainda mais dinheiro (por meio dos programas de re-financiamento e re-endividamento) para criar uma nova dependência do dólar e uma nova, desenfreada globalização do planeta, ignorando os interesses das populações (e fornecendo oxigénio, por exemplo, às problemáticas negociações dos tratados de livre comércio, trans-Pacífico TPP , e trans-Atlântico TIPT).
O uso maciço desses dólares nos países emergentes (caracterizado por um aumento grande o suficiente para absorvê-los), explica em grande parte a falta de desvalorização do dólar e a falta de inflação nos Estados Unidos, apesar da política da Fed: a desvalorização deveria ter ido de mãos dadas com a criação de dinheiro, mas foi absorvida pelo dinamismo económico do resto do planeta.
Mas era algo que o Fed não poderia continuar a fazer. Cada vez mais pessoas nos círculos da Fed estavam relutantes em continuar, provavelmente devido ao fato de que para ter um bom impacto (nos EUA), o montante do dinheiro que entra nos mercados teria que aumentar de forma constante.Bastante claro.
O QE, num primeiro momento, manteve-se no nível de 85 biliões/mês [...] mas em janeiro de 2014 a Fed reduziu o ritmo das suas compras mensais de 10 biliões, e outros 10 biliões em fevereiro. As compras agora consistem de 30 biliões em títulos hipotecários e 35 biliões em títulos do Tesouro (65 biliões/mês no total).
Esta redução do apoio, no entanto, significa que um quarto das "ajuda" indirecta para os países emergentes desapareceu. Lógico, portanto, que a atividade económica nesses países tenha abrandado, arrastando consigo as respectivas moedas.
E é precisamente neste ponto que começa o "efeito bumerangue". Os investimentos ocidentais nas economias emergentes, de facto, valem menos se as suas moedas ficarem desvalorizadas. Uma parte dos activos dos investidores, como resultado, desapareceu, causando stress nos mercados financeiros.
Mas, mais importante, para interromper o declínio das suas moedas, os bancos centrais dos países emergentes começaram a vender as suas reservas de dólares para comprar de volta as suas moedas no mercado do câmbio, resultando num excesso de oferta de dólares e um aumento na demanda por moeda local.
Nesse período, por exemplo, Turquia, Índia, Brasil e Indonésia (entre outros) estão a oferecer dezenas de biliões de dólares por mês no mercado. Tudo isto significa que aqueles que compraram dólares, isso é os países emergentes, tornaram-se vendedores. Em outras palavras, apenas os países capazes de absorver o excesso de dólares agora estão a recusa-los.
Para recapitular: a Fed e o Tesouro [dos EUA, ndt] continuarão a inundar o planeta com 65 biliões de dólares por mês... mas ninguém os quer. Onde é que podem vendê-los, então? Em alguns daqueles países produtores de petróleo (que ainda usam dólares), é claro, mas especialmente nos próprios Estados Unidos. E o que pode fazer a economia estagnante daquele país? Não muito... mas certamente menos do foram capazes de fazer os países emergentes.