Eleições Italia: é caos
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Eleições Italia: é caos


Ainda não chegaram os resultados finais, mas as mais recentes projecções assumem um tom cada mais significativo, sendo que a margem de incerteza diminui.

Se as percentagens forem confirmadas, o Parlamento italiano dificilmente será governável.

Vamos ver mais em pormenor (com dados das horas 19:40).


  • Coligação de Esquerda
(PD, Sel e outros, líder Bersani)
Percentagem Câmara: 31.68% Senado: 32.28% 

Os grandes derrotados. Apesar de ficar provavelmente como a facção mais votada, isso não é suficiente para governar.

Esta pseudo-Esquerda que sorri aos mercados tinha tudo para ganhar: após os resultados negativos do governo Berlusconi e aqueles mais negativos ainda de Mario Monti, com a maioria dos órgãos de informação claramente em favor, era só ficar calados e recolher os frutos. Mas começaram a falar e perderam; e nem é a primeira vez que isso acontece na recente história eleitoral do País.

Da próxima vez, os líderes da Esquerda deveriam fechar-se em clausura ao longo de toda a campanha eleitoral. Melhor ainda: não apresentar nenhum programa. Seria vitória.

Porque num País vítima das medidas filo-europeistas de Monti, anunciar fidelidade aos ideais da Europa Unida (quais?) e que o próximo governo ia ser formado com a participação do mesmo homem da Goldman Sachs, bom, tudo isso assusta. E hoje chegou a conta.

A coligação de Esquerda só pode recitar o mea culpa.

  • Coligação de Direita
(PdL, Lega e outros, líder Berlusconi)
Percentagem: Câmara: 26.91% Senado: 29.93%

Berlusconi é a grande surpresa. Podemos não gostar dele (e eu não gosto), mas o gajo tem sete vidas como os gatos. Desta vez recuperou, mesmo tendo contra a imprensa não apenas nacional.

É possível encontrar as razões desta boa performance? É.
Em primeiro lugar: Berlusconi como político é bem pouca coisa, mas como comunicador tem poucos rivais. O ponto de mudança aconteceu há poucas semanas, num programa televisivo construído pela Esquerda e que tinha como convidado só ele, Berlusconi, sozinho contra apresentador, outros convidados e público. Por quanto possa parecer inacreditável, Berlusconi saiu claro vencedor, por incapacidade dos outros e por mérito próprio. A partir daí, foi só somar votos, até hoje.

Outra motivação: Berlusconi escolheu uma campanha política construída contra esta Europa de Angela Merkel. Até passou perto da Modern Money Theory, tanto para cativar mais simpatias. E conseguiu, apesar da incoerência. Muitos estão descontentes desta Europa: Berlusconi captou o sentimento e conseguiu monetiza-lo.

  • Coligação de Centro
(líder Monti)
Percentagem Câmara: 10.46% Senado: 9.20%

O homem da Goldman Sachs e da Coca Cola viveu o grande sonho de ter conseguido convencer os cidadãos com as medidas de austeridade e o caminho da recessão económica. Entre o dito e o não dito ficava a esperança de governar com a cumplicidade da Esquerda.

Correu-lhe mal mesmo. Justo assim.

  • Movimento 5 Estrelas
(líder Grillo)
Percentagem Câmara: 25.57% Senado: 23.86%

O grande vencedor destas eleições: ultrapassou abundantemente 20% das preferências (quase 26% na Câmara segundo os dados das 18 horas), chegando quase a incomodar a Direita. E isso tendo sido alvo duma campanha vergonhosa por parte de toda a comunicação social, sem exclusões. É a vitória de quem nunca participou nas máfias dos partidos e de internet, verdadeiro coração do Movimento.

Agora começa o derradeiro teste: com um quarto de todos os votos do País é preciso demonstrar ter a capacidade para pôr em prática as boas intenções. Fica a certeza: não é possível fazer política em Italia sem considerar o Movimento de Grillo.

  • Coligação de extrema Esquerda
(Revolução Civil, Partido Comunista e outros, líder Ingroia)
Percentagem Câmara: 2.23% Senado: 1.80%

Os comunistas não atingem a percentagem mínima para entrar no Parlamento. Dito de outra forma: os dinossauros continuam extintos. Também isso é justo assim.


Ultimo dado, a participação: pouco além de 75%, a mais baixa dos últimos anos. 

Resumo: governar pode ser realmente impossível, só uma união composta por mais partidos poderia contar com uma maioria suficiente, mas é bem complicado. Não fica de fora a hipótese de voltar às urnas.

A não ser que alguém pense numa urgência nacional e que justifique desta forma uma união entre partidos até agora impensável.
Nunca subestimar o instinto de sobrevivência duma elite.


Ipse dixit.

Fonte: Il Corriere della Sera


 



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