É como uma meia rendição a frase do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que numa conferência internacional sobre a energia e o meio ambiente, em Quioto, afirma:
Precisamos do vosso conhecimento e da vossa experiência.
Depois ter sido revelada uma nova fuga de água contaminada dos tanques de armazenamento de Fukushima, o primeiro-ministro japonês quer abrir "ao conhecimento mais avançado" dos Países estrangeiros para tentar conter o problema.
É esta uma jogada necessária também para tentar recuperar credibilidade, tendo em vista os planos para 2020, quando Tóquio irá acolher pela segunda vez na sua história a Olimpíada. Shinzo Abe é fortemente criticado em Pátria, como bem demonstra um artigo do Shukan Kinoby:
Apesar de desejar a qualquer custo as Olimpíadas, como é possível que ninguém tenha descoberto que mentir para a comunidade internacional só irá diminuir a confiança no Japão?
Isso na mesma semana em que seis trabalhadores foram expostos directamente a uma perda de água com materiais radioactivos e depois da confirmação de que a radioactividade do mar alcançara a costa leste dos Estados Unidos.
É a primeira vez que o Japão lança um pedido de ajuda à comunidade internacional: agora o primeiro-ministro parece admitir que nem tudo está "sob controle".
Chuva, água, radiação
Na Quinta-feira passada, foi anunciado pela Tepco: água com alta concentração de materiais radioactivos (200 mil becquerels por litro, de acordo com as estimativas), usada para controlar a temperatura nos reactores, teria acabado no mar..
A causa? O mau tempo que nos últimos dias atingiu o Japão: demasiada chuva terá provocado uma grande acumulação de água entre as barreiras de protecção e os operadores, que normalmente bombeiam água nas mesmas barreiras, provocaram o derrame de água contaminada.
Portanto, um erro grosseiro de avaliação. E a opinião pública está cada vez mais preocupada e desanimada.
Tubo, engano, radiação
Entretanto, novo acidente na central: segundo a Tepco, erro humano.
Durante uma operação de manutenção, onze trabalhadores encontravam-se perto do centro de desmineralização das águas. Numa certa altura, um trabalhador terá desligado por engano um tubo e começou uma fuga de água contaminada. A fuga foi controlada apenas uma hora e vinte minutos depois, após uma perda 10 toneladas de água radioactiva.
Dos onze homens, seis foram contaminados com líquido cuja radioactividade atinge os 37 milhões de becquerel por litro, isso enquanto o limite máximo por lei não deve exceder os 30 becquerels por litro.
Oceano, Estados Unidos, radiação
Para acabar: más notícias para aqueles que vivem na costa oeste dos Estados Unidos. Em poucos meses, a água contaminada de Fukushima irá alcançar as costas americanas.
É esta a conclusão dum estudo do ARC Centre for Excellence for Climate System Science, centro de investigação australiano, que tem desenvolvido um simulador para calcular o percurso das águas contaminadas.
A contaminação nuclear é calculada com base na concentração de césio 137, um isótopo radioactivo com um tempo de meia-vida de 30 anos. Isto significa que reduz a metade a sua radioactividade a cada 30 anos. Mas para chegar até os Estados Unidos, a água de Fukushima irá precisar de muito menos tempo: em Março-Abril de 2014, o césio 137 vai alcançar a costa da Califórnia .
De acordo com o estudo, o perigo desta radiação baixo: duas fortes correntes oceânicas que começam a partir da costa do Japão irão acelerar o caminho da água radioactiva mas, ao mesmo tempo, diluem o fluxo e baixam a concentração de césio.
Isso, no entanto, mostra que os desastres nucleares não têm fronteiras: as consequências de um acidente nuclear nunca são limitadas ao lugar onde isso acontece, mas espalham-se, e não podem ser interrompidas de forma nenhuma, em vastas áreas do mundo.
Ipse dixit.
Fontes: Tepco (1 e 2), ARC Centre for Excellence for Climate System Science, NRA Japan
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