ISIS: o inimigo-aliado
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ISIS: o inimigo-aliado


Coitados, até fazem um pouco de pena.

Estes rapazes entram na aviação militar, alguns para fugir da miséria, outros para lutar contra o terrorismo. Isso é o que pensam.

Jovens de 20 e poucos anos que voam com os caças acima do Iraque. Veem os terroristas do ISIS, eis a ocasião para eliminar um pouco daqueles sacanas. Antes de disparar é precisa a autorização da base. Eles pedem a autorização. E depois: nada.

Porque os Estados Unidos não têm nenhuma vontade de combater o ISIS. Mas os pilotos não sabem disso. O que lhes tinha sido ensinado era bem diferente. Entretanto os terroristas, que serão fanáticos mas não totalmente estúpidos, fogem. E nem é precisa muita pressa: para ter a autorização, um piloto tem que esperar até 60 minutos. Dá para tomar um cafezito, recolher algumas peças arqueológicas que serão vendidas no mercado negro e depois, na boa, afastar-se antes que o caça possa disparar.
Houve alturas em que tinha grupos do ISIS no visor, mas não a autorização para disparar.[...] Para receber a permissão para atacar um alvo do ISIS são necessários até 60 minutos.
Uma enormidade. Fosse um drone no Paquistão as coisas seriam bem mais rápidas. Mas aqui é o Califado, é diferente. Os pilotos não entendem, queixam-se. E nem são os únicos.

Na semana passada, o líder da oposição iraquiana Haider al Abadi pediu que os EUA mudem de estratégia porque os ataques aéreos contra as tropas do ISIS são não apenas insuficientes como também ineficazes. De acordo com pilotos e ex-comandantes, os procedimentos que foram estabelecidos para permitir que os caças americanos possam descarregar bombas sobre os terroristas são excessivas e contraproducentes.
Um ex-funcionário que liderou as campanhas anteriores no Iraque disse que "o processo de autorização é ​​muito lento e leva ao desperdício de preciosos minutos que permitem aos inimigos de fugir". Na mesma linha de quanto afirma David Deptula, ex-comandante do Combined Air Operations Center no Afeganistão:
Os procedimentos não levam em conta o novo ambiente operacional, são muito sinuosos e acabam com favorecer o inimigo.
Há frustração entre os pilotos, e não pouca:
Provavelmente estavam a matar alguém e isso por causa da minha impossibilidade em mata-los. Foi muito frustrante.
O que está em causa é também a estratégia decidida pelo Presidente Obama. O ex-comandante Deptula fez uma comparação com as anteriores guerras da aviação americana no Oriente Médio. Durante a primeira Guerra do Golfo, os EUA procederam a ataques aéreos com uma média de 1.125 por dia. No Kosovo, cerca de 135 por dia. Em 2003, sempre no Iraque, 800 ataques por dia.
E contra o ISIS? Apenas 14 por dia.

Muito complicado travar desta forma a marcha do Califado para Bagdade. Segundo o senador John McCain, "75% dos pilotos regressam à base sem ter usado todo o poder de fogo, e isso por causa dos atrasos na cadeia de comando". A percentagem pode não ser tão elevada (McCain não é o símbolo da imparcialidade), mas que alguém carregue no travão é evidente.

Tal como evidente e esperada é a reacção do porta-voz da Força Aérea dos Estados Unidos, que nega tudo. De acordo com a linha oficial, o tempo necessário para autorizar um piloto é variável e, em alguns casos, até mesmo "menos de 10 minutos". Em alguns casos. E em outros? "Muito mais tempo", admite. Depois esclarece:
Esta é uma batalha de longo prazo, não podemos arriscar atingir civis de forma indiscriminada.
Que, dito por um oficial da força aérea dos Estados Unidos, até parece uma piada de mau gosto.
Mas se defender-se das acusações dum adversário político pode ser relativamente simples, quando são os pilotos a criticar a coisa complica-se.

E pensar que seria simples esclarecer a situação. Um discurso breve, possivelmente do Presidente, por exemplo. Algo como "Meus senhores, temos que combater o Califado mas sem exagerar porque é verdade que esta missão custa um dinheirão e é paga pelos nossos contribuintes, e também é verdade que são vocês que arriscam a vida. Mas quem financia o Califado é a Arábia Saudita com o apoio de Israel. Portanto, o Califado é sim nosso inimigo mas nem tanto, é um inimigo e um aliado. Disparem à vontade contra o inimigo mas não se esqueçam de não atingir o aliado".

As tropas iriam adorar.


Ipse dixit.

Fonte: Il Giornale, Fox News



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