Conspiração
O Novo Século Americano
Entre todas as organizações que têm ou tiveram um papel importante na construção da actualidade
(política, guerras, etc.), uma tem um particular realce: o
Project for the New American Century ("Projecto para o Novo Século Americano", PNAC).
Não se fala muito dele, basicamente porque oficialmente já não existe: e é uma pena, pois desenvolveu um papel fundamental, muito mais, por exemplo, dum Bilderberg.
O PNAC existiu entre 1997 e 2006: sediado em Washington, fundado por William Kristol, um político conservador, e Robert Kagan, historiados e comentador político, o PNAC desde logo foi um
think tank (uma "fábricas" de ideias) importante, com membros do calibre dum George W. Bush, dum Donald Rumsfeld ou Dick Cheney.
O interesse acerca do PNAC foi trazido de volta em 2007 por uma entrevista na qual Wesley Clark, ex-general dos EUA comandante da operação
Allied Force na guerra do Kossovo e ex-Comandante Supremo da forças NATO na Europa): segundo Clark, as guerras nas quais os Estados Unidos estavam empenhados (algumas das quais ainda em curso) já tinham sido planificadas há tempo. E, para demonstra-lo, cita um documento, o
Rebuilding America's Defenses ("Reconstruindo as Defesas da América")
, um texto de 90 páginas publicado pelo PNAC em 2000.
O ex-general não mente: o
Rebuilding America's Defenses é um documento de evidente origem republicana, bastante explícito acerca dos métodos com os quais os Estados Unidos podem construir o "novo século" de hegemonia. Mas, mais do que isso, confirma que quanto aconteceu nos últimos 15 anos nada tem de casual: foi fruto duma atenta planificação.
O plano de
Rebuilding America's Defenses é bem articulado: prevê um aumento das despesas militares, planos para consolidar a hegemonia dos EUA através de intervenções militares contra os Países considerados uma ameaça. Como mencionado por Clark na entrevista, o documento cita o
Iraque, o
Afeganistão, a
Líbano, a
Somália, a
Líbia e, finalmente, a
Síria e o
Irão.
Isso, lembramos, no ano 2000, antes do fatídico 9/11 e da "Guerra ao Terrorismo".
Como activar o processo para introduzir as mudanças necessárias e consolidar o "Novo Século Americano"? É o mesmo
Rebuilding America's Defenses que explica isso:
[...] este processo de transformação, apesar de poder trazer mudanças radicais, será algo lento a não ser que haja eventos catastróficos que o favoreçam, como uma nova Pearl Harbor.
Portanto, uma "nova Pearl Harbor", um ataque excepcionalmente forte, tanto da criar na população uma abalo emocional que justifique uma série de medidas que, em tempos "tranquilos", seriam recusadas.
Um ano depois da publicação do documento será a altura do 9/11, o evento catastrófico que proporcionou aos Estados Unidos o
casus belli para invadir o
Afeganistão e acabar duma vez por todas com o
Iraque do Saddam Hussein. Afeganistão e Iraque estavam presentes na lista de Países "inimigos" citados pelo documento
Rebuilding America's Defenses.
Em 2006 e 2008 as guerras precipitam o
Líbano (já há décadas alvo das miras expansionistas de israel) no caos, do qual ainda não conseguiu livrar-se.
Em 2007, os Estados Unidos entraram militarmente no conflito da
Somália. Nos últimos anos, Muse Hassan Sheikh Sayid Abdulle (formado na
National Defense University de Washington) tornou-se Presidente enquanto o Primeiro Ministro é Abdiweli Sheikh Ahmed (Banco Mundial, Banco do Canada, formado na Universidade de Ottawa e no
United States Department of Agriculture).
A
Líbia foi posta fora de jogo em 2011, a
Síria está envolvida numa sangrenta guerra civil (com a participação dos rebeldes armados pelo ocidentais).
Sobra o
Irão, que até agora conseguiu evitar qualquer intervenção militar graças ao apoio da Rússia e da China.
Portanto, todos os últimos conflitos que viram a intervenção directa ou indirecta dos Estados Unidos nos últimos 15 anos fazem parte daquele "roteiro" apresentado no documento do PNAC.
E excepção está na recente guerra civil da Ucrânia, pela qual temos que olhar para outro
think tank (
Council on Foreign Relations e, mais ainda, Comissão Trilateral) e outras personagens (
Zbigniew Brzezinski, Henry Kissinger, David Rockefeller, George Soros). Como é lógico, os planos da asa republicana mais radical (da qual o PNAC era expressão) foram gradualmente substituídos pelas visões dos representantes democráticos (a conquista da Eurásia), cuja administração detém agora o poder em Washington.
Todavia, é importante realçar como nada daquilo que acontece parece ser o fruto dum simples acaso ou de eventos pontuais. As teorias de
Zbigniew Brzezinsk adoptadas neste anos não diferem muito das análogas do PNAC: são apenas uma outra forma de garantir aos Estados Unidos o papel de super-potência.As técnicas utilizadas tornaram-se talvez mais refinadas (agora há as redes sociais que desencadeiam as "revoltas populares"), mas o desfecho é exactamente o mesmo: uma série de guerras friamente planeadas que difundem a "democracia" americana.Isso implica o sangue de multidões?Claro que sim, faz tudo parte do pacote promocional.A seguir um excerto da entrevista de Wesley Clark gravada em 2007.São poucos mais de três minutos legendados em português, parte duma entrevista bem maior (acerca duma meia-hora). Vale a pena ver.Ipse dixit.
Fonte: The Project for a New American Century: Rebuilding America's Defense (ficheiro Pdf, inglês)
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