O que é o dinheiro: resumo
Conspiração

O que é o dinheiro: resumo


Ainda com este dinheiro? Sim: a partir de hoje e para os próximos quatro Domingos haverá um artigo dedicado ao dinheiro.

"Mas Max, já falámos disso tantas vezes, começas a aborrecer. Epá, se não tens nada mais para dizer fecha o blog que fazes uma figura melhor".

Uhi que mau feitio que tem o Leitor hoje...Verdade, já falámos disso muitas vezes.
Mas:
Considerado isso, eis um super-resumo de tudo o que foi dito nestes quase 5 anos de blog em relação ao dinheiro. Tudo, mas mesmo tudo? Não: só os pontos mais importantes, os que qualquer um de nós deveria sempre ter em mente. Se o Leitor tiver dúvidas, aconselho perguntar agora, pois não voltaremos a tratar do assunto. Nunca mais, este é um juramento solene.

Quanto aos Leitores que já conhecem de cor estas coisas: tenham paciência, a vida é feita destas dores também.

O dinheiro: não existe

É isso mesmo: o dinheiro não existe nas economias modernas. Para entender isso, no entanto, temos de fazer uma operação mental ao limite do impossível, um pouco como se fosse pedido para acreditar que o céu abaixo do solo (nota: é o contrário, costuma ficar acima).

Não é bem uma provocação teórica. O dinheiro não existe e isso tem profundas implicações vitais para a existência, hoje e amanhã, de cidadãos e empresas.

Infelizmente, desde que a mãe dava a moeda para comprar o sorvete, estamos habituados a pensar que o dinheiro seja um bem que existe e de muita importância. Aliás, nem pensamos isso, "sabemos" isso. Errado.

A melhor maneira para explica-lo? Com um exemplo.

João tem um contrato de hipoteca com o banco para comprar uma casa. Já recebeu o dinheiro do banco, comprou a casa e agora tem que trabalhar para ganhar dinheiro a fim de pagar o empréstimo com juros.

Todos pensam: João agora deve trabalhar duramente para devolver dinheiro ao banco. Errado. João não trabalhar 18 horas por semana para dar dinheiro a um banco, mas para dar-se um pedaço do muro, a canalização, o piso e o tecto. Para dar-se uma casa.

As 18 horas de salários que João dedica ao mútuo são para adquirir um bem real, feito de paredes, salas, portas, banheiros e cama do gato (que também precisa). João não utiliza as 18 horas do seu trabalho para das dinheiro ao banco. O que o banco recebe são apenas códigos electrónicos baseados no salário de João e não dinheiro.

Não estão convencidos? Ok, então pensem nisso: quantos trabalhadores já viram entregar ao balcão dum banco a prestação da casa? Provavelmente nenhum, porque não é o trabalhador que a cada mês vai entregar fisicamente o dinheiro, a entrega é feita entre bancos: aquele onde a empresa de João deposita o dinheiro do salário e aquele onde João contraiu o mútuo da casa (que depois costuma ser o mesmo banco).

Vamos simplificar ainda mais. 

A casa do João
No primeiro dia, João vê um bom apartamento, que custa 200.000 Euros, e decidiu comprá-lo. Também o gato dele gostou, pelo que no dia 1 de Março João entra no banco e pede um mútuo de 200 mil Euros. João precisa do mútuo, porque não tem todo o dinheiro para comprar a casa e o gato não trabalha (os gatos são parasitas).
O banco analisa a situação financeira do João, e no dia 2 transfere na conta bancária do João alguns códigos electrónico.

Atenção: o banco não transfere na conta do João 200.000 Euros reais, físicos; não há nenhum funcionário que pegue em 200 mil Euros do cofre e "enfie" 200 mil Euros na conta do João. O que o banco faz é digitar códigos; e estes códigos são inventados pelo banco, pois podem chamar-se XY200MIL ou +200ZÉCASA ou simplesmente +200.000€, tanto faz: são inventados do nada.
O que acontece agora? João pega neste código (por exemplo +200.000€) e vai deposita-lo na conta do dono da casa. Resultado: agora é João o novo dono! Com um simples código electrónico, João tornou-se o novo proprietário da casa e o gato pode já começar a arranhar as paredes. João tornou-se dono dum bem real, tangível. Tudo isso apenas com alguns códigos electrónicos inventados por um banco.

Mas há um senão: o banco diz que aqueles códigos têm que ser devolvidos. Ou seja: João tem que honrar o mútuo. Uma chatice, sem dúvida. Então, agora João tem que trabalhar para manter a sua casa. E tem que trabalhar no mundo real, não no mundo dos códigos.
João trabalha o mês todo e após 30 dias ganha o seu salário. O patrão entrega dinheiro físico ao João no final do mês? Não: no dia 30 o patrão entrega na conta de João um código, +1.000€. E o banco (que é o mesmo onde Zé obteve o empréstimo da casa) retira uma parte deste código (-200€) que ficam para si. É assim que o mútuo é devolvido, em prestações mensais.

A cada mês, um pedacinho de código fica para o banco, até que os códigos consigam anular-se (isso é: após João ter depositado tantos códigos que consigam compensar o código original de +200.000€ . O que costuma acontece depois de 20, 30 ou 40 anos).

Abstracto e real 

Isso é o mútuo hoje em dia: não dinheiro, mas as peças dum bem real que é adquirido mensalmente
utilizando códigos abstractos.

Mas atenção: donde vêm estes tais códigos abstractos? Como é que João ganha os códigos? Os códigos vêm do trabalho. É com o trabalho diário (que produz bem reais) que João pode ganhar os códigos mensais (aquele +1.000€) com o quais pode devolver ao banco o código emprestado (+200.000€).

Mas parem tudo, pois isso significa uma coisa espantosa: significa que os bens reais produzidos pelo João com o seu trabalho conseguem ganhar outros activos reais, ou seja, a casa. Isso é espantoso? não: o que é espantoso é que em tudo isso o dinheiro não aparece.

O dinheiro é apenas um código abstracto que permite o acesso aos bens reais. Em toda esta história de João, o seu trabalho e da nova casa dele, o dinheiro real (notas, moedas) nunca entrou em cena. Apareceram apenas códigos. A verdade é que João não viu um cêntimo "real". E nem o banco.

Então, isso significa que nem os bancos têm dinheiro? Exacto. Os bancos não têm dinheiro e nem precisam. A razão? A seguinte: esses códigos que os bancos entregam e que depois querem de volta com juros acabam de voltar no sistema bancário e anular-se. Desaparecem no ar. Mas não os interesses.

O dinheiro dos bancos. E os juros.

Vamos fazer um outro exemplo para explicar melhor este ponto.

Quando o Banco dos Roubos (este é o nome comercial) empresta o dinheiro (os tais códigos) ao João no Dia 3 e João remete este dinheiro (sempre códigos) ao dono da casa, este por sua vez deposita o dinheiro (códigos) no seu banco, o Banco dos Ladrões.

Atenção a um pormenor: o Banco dos Roubos deu a João códigos abstractos, João deu estes códigos ao dono da casa, este foi ao seu banco (o Banco dos Ladrões) e aí depositou os códigos, que foram reconhecidos como um crédito (+200.000€).

O que aconteceu entre os bancos? Um banco, o Banco dos Roubos, emitiu um códigos abstracto chamado +200.000€ e que é um seu activo (João deve devolver-lhe o código com juros), enquanto o outro banco, o Banco dos Ladrões, tomou este código e criou um crédito na conta do antigo dono da casa: do ponto de vista do segundo banco este é um passivo (-200.000€, pois o banco deve este código aos antigo proprietário). Portanto: o código do activo (+200.000€) é imediatamente cancelado no banco pelo código do passivo (-200.000€).

Resultado? +200.000 -200.000 = 0 (zero). Os dois códigos anulam-se reciprocamente: o dinheiro gerado pelos códigos desapareceu.

E os juros? Pois, os juros.
O Banco dos Roubos recebe os juros sobre o mútuo e é João que paga. Mas também os juros são códigos (nascem sempre do salário-código do João). O banco acumula-os e usá-los para pagar os funcionários, as taxas de administração e outras coisitas ainda.

Mas, outra vez, atenção: aqui também o banco recebe códigos (os juros) para pagar bens reais, como os funcionários, o prédio onde está sediado, o mobiliário, os computadores. Portanto, também os bancos utilizam códigos abstractos para obter bens tangíveis, reais.

O dinheiro não existe, é apenas um código como o comando do portão. Não existe, mas abre o portão dos bens reais.

E o dinheiro criado pelo Estado? Nem aquele existe.
Mas isso fica para o próximo Domingo.


Ipse dixit.

Relacionados:
Parte II
Parte III 
Parte IV

Fontes: no último artigo.



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