Conspiração
O que fazer com as manifestações?
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As manifestações deste fim de semana foram as maiores de sempre em Portugal, espontâneas, legítimas e com testemunhos comoventes. A revolta estendeu-se a todo os estratos sociais. No dia seguinte ficar a pergunta: o que fazer com estas manifestações?
Ao longo de décadas, fizeram-nos acreditar que o único sistema democrático viável era aquele em que vivemos, pautado por eleições regulares dominadas por partidos políticos. Acreditamos que ao colocar o nosso boletim de voto de quatro em quatro anos numa urna somos donos dos nossos destinos. Vivemos neste sistema esquecendo que, na realidade, o nosso voto não é escolhido livremente, mas sim fruto de vários factores dos quais o mais importante, a manipulação mediática, nas mãos dos grandes grupos financeiros, é que "decide" em que candidato iremos votar, no meio de uma mão cheia de candidatos impostos pelos partidos políticos.
Após a votação, o candidato escolhido tem carta branca para fazer o que os grandes grupos financeiros lhes ditam. Este sistema está construído, muito em particular através do método d' Hondt, para perpetrar no poder, alternadamente, dois grandes partidos, um de centro-direita e outro de centro esquerda, que são exactamente a mesma coisa. É o que se passa em todos os países ocidentais.
Outras soluções são possíveis para ter um sistema mais democrático, mas o poder, e quem o manipula, não está interessado noutras vias para não perder os seus privilégios. Nestas condições, é praticamente impossível combater o sistema capitalista instalado actuando por dentro, isto é com as mesmas armas.
As manifestações, mesmo desta amplitude, são apenas cócegas para este sistema capitalista, com a vantagem de servir de panela de escape à revolta popular.
Muitas das várias revoluções mundiais "apenas" conseguiram substituir uma ideologia partidária de direita por uma outra de esquerda ou vice-versa. O nosso sistema democrático não tolera verdadeiras democracias populares, aquelas que invertem a pirâmide do poder, aquelas que a nível local, de bairro ou de vila, decide as suas prioridades, que as transmite ao nível regional e por fim ao nível nacional. Com o actual sistema, o topo da pirâmide na maior parte das vezes não faz a mínima ideia, nem está preocupado com o que se está a passar na parte de baixo.
O actual modelo afastou o poder da realidade, desvalorizando o trabalho e a justa distribuição dos rendimentos. Privilegia uma elite política que troca favores entre si para manter imutável uma sistema corrupto e especulativos com o qual partilha o fruto do trabalho produzido pela multidão de escravos que financia os seus altos rendimentos.
A legítima revolta popular traduzida nesta manifestação que ficará para a História, coloca também a questão de saber o que fazer no dia seguinte com essa manifestação. Existem muitas alternativas às medidas anunciadas por este governo, mas é pouco provável que ele irá voltar atrás nas suas decisões.
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