EUA: quanto conta o PIB?
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EUA: quanto conta o PIB?


Quanto é importante o PIB?
O valor do Produto Interno Bruto pode realmente dar uma ideia do estado de saúde da economia? E sobretudo: o PIB é um valor "absoluto", que indica sem sombra de dúvida o bem estar dos cidadãos?

A resposta perante a primeira pergunta é: sim, o PIB pode fornecer uma ideia (bastante precisa, até) acerca do estado de saúde da economia. Mas o PIB não diz tudo: há outros dados que têm de ser considerados, porque o PIB sozinho pode até dar uma ideia errada.

Parece um paradoxo: o PIB (que podemos aproximadamente descrever como "a riqueza produzida num ano num País") pode apresentar valores positivos, das a ilusão dum País que cresce enquanto os seus cidadãos vêm as suas condições de vida piorar. 

Um recente artigo de Paul Craig Roberts, economista ex-secretário assistente do Tesouro dos Estados Unidos e editor associado do Wall Street Journal, apresenta bem a questão.

Das páginas de CounterPunch:
É fascinante a forma como o governo é capaz de continuar a vender "histórias" ao público. Os norte-americanos engolem guerras das quais não precisam e recuperações económicas inexistentes.

O melhor investimento nos EUA é um fundo altamente alavancado que investe apenas em grandes empresas de capital que estão a comprar as suas próprias acções. Muitas destas empresas estão a contrair empréstimos para aumentar os seus valores, para os "prémio de desempenho" e os ganhos dos gestores e dos accionistas. A dívida será paga com os futuros ganhos. Esta não é uma representação do Capitalismo que impulsiona a economia por meio dos investimentos.
Pois: o Capitalismo foi-se e há muito. Já sabemos. O que sobra é uma economia drogada, sem um real valor intrínseco.

E Craig Roberts sabe muito bem disso, pois ele foi um dos fundadores das actual economia: lembram-se da Reaganomics (anos '80, Presidente Ronald Reagan), entre os cujos pilares havia a redução do controle sobre as actividades económicas (deregulations)? Craig Roberts foi um dos fundadores.

Mas vamos ao que interessa:
Paul Craig Roberts
Nem são os consumidores a dirigi-la. O relatório sobre os rendimentos e a pobreza elaborado pelo Bureau do Censo dos Estados Unidos em 2013 afirma que nesse ano o rendimento médio real de uma família foi 8% menor do que em 2007, o ano antes da recessão de 2008, voltando assim ao nível de 1994: há duas décadas!

Embora o rendimento real das famílias não voltou aos níveis anteriores à recessão e está de volta ao nível de 20 anos atrás, o governo e a imprensa financeira reivindicam que a economia está a recuperar desde Junho de 2009.

Nem é a dívida do consumidor que impulsiona a economia. O único crescimento da dívida pessoal está relacionado com os empréstimos estudantis.

As vendas reais do varejo (corrigidas com uma análise da inflação não manipulada) permanecem no ponto mais baixo atingido pela recessão em 2009. As lojas de Macy, JC Penny e Sears que fecham são mais uma prova da falta de crescimento no sector de varejo, como é um fato de que duas das três cadeias de Dollar Stores [lojas que vendem artigos ao preço máximo de um Dólar, ndt] estão em apuros. As vendas do WalMart estão a cair.

A base da publicidade para a venda de carros consiste em subrime loans [empréstimos de alto risco concedidos a pessoas que já estão em dificuldades económicas, ndt] e leasing para as pessoas que não estão qualificadas para obter empréstimos regulares.

A venda de imóveis continua a estar longe dos níveis pré-recessão, o que não é estranho considerado que os únicos empregos disponíveis são os a tempo parcial. Estes tipos de trabalho não podem apoiar a criação de famílias e a aquisição de habitações.

Onde está a taxa de crescimento de 4,6% do PIB que o governo exibe para o segundo trimestre de 2014? Nasce duma inflação subestimada e números falsos. Não é um valor correcto. Nada aconteceu com a economia para transformar um declínio no primeiro trimestre de 2% para crescimento no segundo de 4,6%.

4,6% foi extraído do chapéu para lançar as bases das eleições de Novembro.

É extraordinário que os economistas e os meios financeiros permitam que o governo fuja com o seu falso relatório sobre a economia. Obviamente, Wall Street gosta das boas notícias... mas as notícia falsas que enganam os investidores e cobrem os erros da política económica?
O simpático Craig aqui finge não saber algo que sabe muito bem. As notícias económicas falsas são uma excelente forma de atrair os investidores (pequenos e médios) para que a máquina não pare. E, numa fase conturbada como a presente, talvez sejam a única forma.

Mas o que interessa aqui é realçar como os valores do PIB estejam bem longe da realidade. Craig lança uma acusação: 
É evidente que há algo de errado no relatório económico do governo. Não é possível ter um crescimento real do PIB quando os rendimentos das famílias médias estão em declínio médias e os grandes investimentos são feitos por empresas que compram as suas próprias acções.
Ou está errado o PIB estimado pelo governo ou está errado o relatório sobre os rendimentos e a pobreza do Bureau. Aparentemente, Washington não entende que se deseja corrigir as contas, deve corrigi-las todas.
Os números "acomodados" da inflação dão a ideia dum crescimento ilusório do PIB. Certamente, o principal objectivo dos ajustes dos dados da inflação é livrar-se da Segurança Social "socialista", gradualmente corroer o valor dos direitos. Os Republicanos sempre quiseram eliminar os direitos para os quais as pessoas pagaram durante uma vida de trabalho por meio dos impostos. Mas os Republicanos nunca quiseram reduzir a carga tributária. Precisam da receita para salvar os grandes bancos e manter guerras intermináveis​​.
Na verdade, quem salvou os bancos too big to fail ("Demasiado grandes para falir") em 2008 não foram os Republicanos, mas o simpático Obama. E a última, desnecessária guerra (o Califado!) foi outra ideia de quem? Exacto, de Obama. Mas procedemos: 
Washington tem procurado guerras desnecessárias no estrangeiro para 93% do século XXI, a um custo de triliões de Dólares. Outros triliões foram gastos para salvar os bancos em que a falta de controle do governo tem permitido tornar-se "grandes demais para falir". Nos últimos sete anos, milhões de americanos perderam os seus empregos e as suas casas; e os vales-refeição em favor de pessoas necessitadas alcançaram números recordes. Este sofrimento dos cidadãos tem sido ignorado pelos políticos em Washington.
Isso, Craig, isso: começamos a falar de Washington como do centro do poder, sem uma estéril distinção entre Republicanos e Democratas, Direita e Esquerda...
Claramente, o governo dos Estados Unidos está focado em algo diferente da economia, da saúde e do bem-estar dos seus cidadãos. Nós chamamos isso de democracia, mas não é.
Bravo Craig, viste que lá chegaste?
Agora, ,para acabar, voltamos ao assunto principal.

Não temos a capacidade de estabelecer se os dados apresentados pelo governo americano estejam ou não correctos. É provável que um pouco de pozinho mágico tenha sido espalhado acima das folhas de cálculo: aproxima-se a época das eleições, normal que isso aconteça.

Mas isso nem seria absolutamente necessário: porque, como afirmado em abertura, o PIB sozinho não é suficiente para descrever o nível de vida dos cidadãos. É um dado importante, isso sim, mas não "definitivo".


Ipse dixit.

Fonte: Counter Punch



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