ISIS: os atentados no Yemen
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ISIS: os atentados no Yemen


Pergunta José Burgos:
Estado Islâmico reivindica atentados a mesquitas xiitas que mataram ao menos 142 no Iêmen é verdade ou mais uma tentativa de desestabilizar e criar o clima de guerra entre os muçulmanos?
Boa pergunta. Nos últimos dias parece ter havido um "salto de qualidade" na ofensiva do ISIS.
Duas mesquitas em Sana'a, a capital do Yemen, sob o controle do movimento xiita Houthi, foram atacados por homens-bomba que fizeram-se explodir durante as orações da Sexta-feira.

O resultado é particularmente grave: quase 150 mortos e centenas de feridos. Dois outros atentados em Sa'dah, um reduto dos xiitas, fizeram pelo menos 16 vítimas.

As duas mesquitas da capital, a de Badr e Hashoush no distrito de al-Yarraf, são um lugar de adoração dos fiéis da tribo xiita Houthi. Entre as duas explosões passou cerca de meia hora. De acordo com a televisão Al-Jazeera, foi morto Sheikh al-Murtaza Mahturi, líder espiritual dos Houthi. Dezenas de crianças entre as vítimas: as imagens são horríveis.

Homens-bomba também em acção em Sa'dah, Houthi fortaleza xiita no norte do País. Um suicida fez-se detonar contra um complexo do governo, enquanto que no segundo ataque o homem-bomba foi travado e desarmado pouco antes de explodir dentro dum local de culto.

O Yemen fica assim em pleno caos político e religioso, dividido em dois: o norte, com a capital Sanaa, controlado pelos xiitas Houthi e o sul nas mãos do presidente deposto Abd Rabbo Mansour Hadi (já refugiado no Aden), onde ontem foram registados fortes confrontos entre as milícias e até mesmo um ataque aéreo.

Hoje os ataques foram reivindicados pelo Estado islâmico, cuja propaganda tem mostrado nas últimas semanas conseguir seguidores entre os jihadistas da Península Arábica até então leais a Al-Qaeda e ao seu líder Ayman al-Zawahiri.

É possível que o ISIS seja o verdadeiro responsável dos ataques?
Não apenas é possível como é muito provável.

O "Califado" é um movimento sunita, numa guerra de cariz político-religioso contra a vertente xiita. E o "Califado" teve a sua origem nos financiamentos da Arábia Saudita, principal impulsionadora do poder sunita. O Yemen tem o azar de ficar numa zona estrategicamente importante: posicionado entre o Golfo de Aden e o Mar Vermelho, controla o transito entre o Canal de Suez e o Mar Arábico. Um País de dimensões limitadas (pouco maior de que Portugal), mas "encaixado" entre as monarquias sunitas da Arábia Saudita e do Oman.

Por isso não é a primeira vez que fica na mira. Nos últimos anos tem sido acusado de acolher importantes membros de Al-Qaeda, até campos de treinos para terroristas. Agora entrámos na segunda fase, com as milícias do ISIS que tentam chegar aí onde os EUA com só os drones não conseguiram.

Uma vez caído o Yemen, toda a Península Arábica estará gerida pelos sunitas, que poderão assim
concentrar-se no Norte, contra a Síria e o Irão. As próximas negociações dos EUA com Teherão acerca da questão nuclear, de facto, são detestadas não apenas por israel mas também pela maioria dos sunitas. Na verdade, um ataque de israel contra Teherão seria uma enorme prenda para as monarquias arábicas.

Não esquecemos que, apesar do grande inimigo do Islão estar sediado em Tel Avive, nunca Al-Qaeda ou o ISIS têm perpetrado actos de terrorismo contra israel. Este é um assunto "tabu", ninguém fala disso: mas deve existir uma espécie de acordo (via Washington?) entre as monarquias árabes e o estado israeliano.

Explicar esta "falta de atenção" no caso de Al-Qaeda é bastante simples, considerado quem gere o franchising deste grupo terrorista (perguntar à CIA em caso de dúvidas). Mas quando o discurso for o ISIS as coisas mudam: o fornecimento de armas e meios ocidentais para o ISIS não é suficiente para explicar esta "falta de atenção" dos radicais islâmicos que, como sabemos, foram amplamente financiados pelas monarquias da Arábia Saudita.

É complicado afirmar se as monarquias consigam ainda gerir o ISIS, há sinais contrastantes neste sentido. Mas, dados os últimos acontecimentos no Yemen, parece que a Arábia Saudita e os outros "Senhores do Petróleo" ainda possam dizer uma palavra acerca dos objectivos do movimento.


Ipse dixit.

Fontes: La Repubblica, Il Corriere della Sera



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