O ateísmo no mundo árabe (1ª parte)
Conspiração

O ateísmo no mundo árabe (1ª parte)





Se a definição de ateísmo é mais ou menos consensual, já o conceito de “mundo árabe” engloba vários pontos de vista, entre ou quais o geográfico, o linguístico ou o islâmico.


O conceito geográfico deveu-se à expansão do Islão a partir da Arábia no século VII e inclui 22 países divididos em Mashreq a l’Est. e Maghreb a oeste. Estes partilham a língua árabe, sendo este o secundo conceito. Finalmente, têm como religião dominante o islamismo. Estes conceitos não são absolutamente exactos, dado que alguns desses países têm minorias populacionais que não praticam a religião islâmica e alguns povos não têm o árabe como língua dominante, como em certos países africanos.





Seja como for, uma coisa é certa, dificilmente podemos dissociar o mundo árabe do islamismo, sendo que historicamente, temos dois períodos distintos, um pré-islâmico e outro pós-islâmico.
Pensa-se que a palavra “árabe” tenha origem nos habitantes da Arábia. Terá sido uma transformação do termo “arâbâh” derivada da raiz semítica “abhar”, que significa “deslocar-se”. Estes homens que se deslocavam no deserto, eram os povos nómadas de origem beduína.


Qual terá sido, e qual é actualmente, o lugar do ateísmo neste mundo arabe? Para um ocidental, esta perspectiva será sempre inexacta devido ao peso cultural que carregamos.
Apesar de tudo, a visão deste problema por um ateísta ocidental, talvez seja uma das menos preconceituosas, dado que para eles, o islamismo baseia-se numa lenda semelhante a qualquer mito pré-monoteísta.


O Corão, livro de base dos muçulmanos, pode, e deve ser analisado e interpretado como qualquer outro texto, sendo sagrado, apenas para quem nele acredita. A proibição de o criticar baseia-se no dogma da sua intocabilidade, por acreditar que este representa uma verdade absoluta e incontestável. Esta postura não beneficia a sua compreensão e, até certo ponto, é contrária às condutas nele escritas.


A questão fundamental e desapaixonada é a seguinte: poderá um arabe ser ateu num mundo islâmico? Será que um ateu, que aceita as convicções filosófica e religiosas de qualquer indivíduo, tem por parte do mundo islâmico em que vive a mesma tolerância?





Ateísmo versus religião.



A história da humanidade está intimamente ligada à tentativa de explicar o desconhecido. A interpretação dos fenómenos naturais, conduziu o Homem a criar deuses e criaturas sobrenaturais que explicariam a origem da sua criação, o a mecânica celeste e as relações dos seres vivos.


O medo da morte inelutável, levou o Homem a procurar teorias metafísicas que lhes propusesse uma vida para além da morte. Os que agora esboçam um sorriso perante o que classificam de lendas dos povos da antiguidade, são os mesmos que necessitam das novas religiões que as vieram substituir.


Antes de continuar, temos de definir o que é um ateu. Esta palavra é relativamente recente, datará de 1611, a data pode não ser exacta, mas é posterior e muitas vezes utilizada como sinónimo de herege, que no século XIII referia-se às pessoas que não aceitavam a doutrina estabelecida pela fé católica.


Essa doutrina era apresentada como um dogma, isto é como certo e indiscutível, cuja verdade as pessoas têm de aceitar sem questionar. Este conceito é comum a todas as religiões.
Mas, aqui está um primeiro ponto importante. A verdade em termos religioso não é única, dada a multiplicidade religiosa. Se aceitamos como sendo a verdade algo que se encontra conforme aos factos e à realidade, então, existirão várias realidades e portanto várias verdades. As religiões poderão então ser pontes entre os factos e a subjectividade cognitiva do intelecto humano.


Ao aceitar que existe um Deus como sendo um ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si, que define o que é bem e o que é mal, estamos implicitamente a aceitar que nos seres humanos estão ausentes estas noções como o Bem e o Mal, atributo exclusivo dessa divindade. Ora, os conceitos do Bem e do Mal, não são privilégio de um Deus transcendente, são sim juízos e entendimentos filosóficos anteriores às religiões. Por isso é que um ateu não necessita de uma religião que lhe dite essas normas, sob pena de estar sujeito a castigos e recompensas futuras.


O conceito de um Deus todo-poderoso, dono de um universo que ele próprio criou, tem dificuldade, do ponto de vista teológico, em explicar a origem do Mal. Ao refugiarem-se por trás do “mistério de Deus” inacessível, as religiões abdicam da sua capacidade em fornecer uma visão coerente do mundo.


O ateísmo não deve, nem pode ser fundamentalista, caso contrário corre o risco de se tornar numa “religião”, e acabaria por se tornar igual, do ponto de vista dogmático, aos que critica.
Um ateu simplesmente não necessita de uma explicação divina para justificar o seu comportamento moral e encontrar uma resposta para o seu destino. Isto faz com que os ateus, de um modo geral, sejam bastante tolerantes com os que professam uma qualquer crença. O mesmo já não se pode dizer em relação às religiões monoteístas, que não entendem como é que é possível alguém por em questão um conceito que para eles, não só é necessário, como sobretudo inquestionável.


...





loading...

- Iémen: A Guerra Esquecida
.   O Iémen é o país mais pobre do Médio Oriente, sujeito a uma guerra não mediática. Não constas das informações ocidentais, no entanto tem uma posição estratégica fundamental que explica o conflito, tanto do ponto de vista geo-estratégico...

- E Mais Uma Vez...o Mundo Não Acabou
. Mais uma vez, as predições do suposto fim do mundo saíram goradas, era para ser exactamente no dia 21 de dezembro de 2012, o mundo tal como o conhecemos obstina-se a a não ter fim, pelo menos numa visão que ultrapassa a nossa pequenez...

- O Islamismo Nas Revoluções árabes
. O mundo árabe está em ebulição, mas nem sempre os nossos comentadores jornalísticos conseguem ter uma visão justa do que se está a passar. O texto seguinte é baseado nas opiniões escritas de Zhor Firar, Fouad Imarraine e Omar Mahassine, militantes...

- A Religião Envenena Tudo...
"A religião envenena tudo e não acaba porque somos egocêntricos" é um excelente entrevista de Vanda Marques, Publicado em 02 de Março de 2010 pelo Jornal i, um diário que marca a diferença nos média em Portugal. Christopher Hitchens é jornalista...

- O Ateísmo No Mundo árabe (2ª Parte).
O lugar do ateísmo nas várias religiões. Nas religiões politeístas, dada a profusão de deuses, os ateus são geralmente melhor aceites. O budismo, por muitos considerado uma filosofia e não uma religião, convive bem com o ateísmo. É sobretudo...



Conspiração








.