9/11: as 28 páginas
Conspiração

9/11: as 28 páginas


E assim a Arábia Saudita levantou o tom.
Os Estados Unidos querem tornar públicos documentos até hoje classificados acerca do 9/11?
Então eles, os árabes, ameaçam vender até 750 biliões de Títulos de Estado emitidos por Washington, com o fim de criar o caos em Wall Street e arredores. Palavra de Adel al Jubeir, ministro dos negócios estrangeiros de Riad.

Ok, paremos e reflectimos: 15 dos 19 alegados terroristas eram cidadãos da Arábia, é verdade, mas daí? Eram criminosos, em teoria sem nenhuma ligação com o governo de casa Saud. Por qual razão a Arábia deveria chegar a ameaças tão violentas contra aquele que é o seu principal aliado nas questões políticas e militares do Oriente Médio?

A ameaça da Arábia é vã: difícil vender 750 biliões de Títulos sem que isso traga repercussões negativas para a mesma economia do reinado (que já tem os seus problemas com o petróleo vendido em saldo). Mas não deixa de ser uma ameaça interessante porque testemunha a crescente tensão entre Riad e Washington.

Todavia aqui o que interessa é o cerne da questão: o 9/11 teve lugar em território dos EUA, oficialmente perpetrado por uma equipa de Al-Qaeda, dirigida por Osama Bin Laden. Também este último era cidadão da Arábia, e com ligações de primeiro plano com a casa real saudita: mas oficialmente não passou dum renegado, alguém que abandonou o conforto duma vida passada à sombra dos palácios para abraçar a luta dos radicais muçulmanos, perdidos nas áridas montanhas entre Afeganistão e Paquistao. Por qual razão, agora, o governo de Riad quer que o segredo seja mantido? E segredo acerca de quê?

No centro da disputa estão 28 páginas que desde a Administração de Bush foram mantidas classificadas: a motivação é que o conteúdo teria posto em risco a segurança nacional. Portanto, nem a Comissão 9/11, a mesma que determinou o não envolvimento da Arábia no atentado, teve ocasião de lê-las.

Quem costuma seguir as investigações acerca do 9/11 sem ter em conta apenas o relatório oficial bem pode imaginar o que aquelas 28 páginas contêm. Nem é precisa muita fantasia. E também entende-se a razão do sigilo: demonstrariam as responsabilidades de Países aliados (Arábia Saudita in primis) na organização do mais grave atentado que alguma vez atingiu os EUA. Deitariam por terra as acusações contra Afeganistão e Iraque e talvez tornariam claro duma vez por todas quem é Al-Qaeda e por conta de quem sempre actuou.

Mas voltemos aos 28 páginas: é possível tentar algo mais específico? Sim, é possível.

Em Janeiro de 2000, o primeiro dos 19 sequestradores envolvidos no 9/11 desembarcou em Los Angeles depois de participar numa reunião de Al-Qaeda em Kuala Lumpur. Pouco depois chegaram também os cidadãos sauditas Nawaf al-Hazmi e Khalid al-Mihdhar, ambos com uma limitada ou nenhuma experiência no mundo ocidental, até o ponto que nem sabiam falar Inglês. No entanto, surpreendentemente e sempre segundo a versão oficial, conseguiram avançar com o plano e alcançar os objectivos.

Ambos tinham uma ligação com Fahad al Thumairy, um diplomata do consulado da Arábia Saudita, ao qual em 2003 foi negado o regresso nos EUA por causa das suas ideias extremistas. Os registos telefónicos revelam que estava em contato regular com Omar al-Bayoumi, um grande "benfeitor" da causa terrorista.
Mas quem era afinal Omar al-Bayoumi? Era um agente da Arábia Saudita, tal como revelado pelos ficheiros do FBI.

Os dois sequestradores tinham conhecido Omar al-Bayoumi e forma "casual", num restaurante do Oriente Médio, e rapidamente os três tornaram-se amigos. É muito provável que tenha sido al-Bayoumi a ajudar os dois em território americano, em tarefas quais encontrar uma habitação em San Diego, conseguir documentos de identidade falsos, inscrever-se em escolas para aulas de Inglês e vôo. Portanto, Omar al-Bayoumi tinha contactos com o funcionário do consulado saudita, Fahad al Thumair, com os dois terroristas, com a intelligence saudita e com o FBI. E mais: al-Bayoumi tinha laços também com Anwar al-Awlaki, um imã nascido nos Estados Unidos que cedo tornou-se chefe de propaganda e das operações de Al-Qaeda no Yemen. Durante a fase de preparação do 9/11, foi al-Awlaki o conselheiro espiritual dos terroristas.

É exactamente este tipo de informação que, alegadamente, consta nas tais 28 páginas: uma informação que aponta directamente para a Arábia Saudita, considerada a principal fonte de financiamento de Al-Qaeda por meio dos seus ricos cidadãos ricos e das instituições de caridade patrocinadas pelo governo. Todavia podemos ir um pouco além e considerar os excelentes relacionamentos que decorriam no princípio do novo milénio entre Washington e Riad: seria absurdo imaginar uma Arábia que planeia algo assim sem o conhecimento dos EUA ou, pelo menos, de alguém próximo da Administração americana. E, também aqui, não é precisa muita fantasia para entender isso porque o FBI reconhece que Omar al-Bayoumi, o espião de Riad, era também informador dos EUA, a "melhor fonte em San Diego". Pelo que, fica claro que alguém em Washington sabia (e paremos aqui...).

A hipótese de alguém na Administração saber o que se estava a preparar não encontra lugar nas 28 páginas, mas é uma consideração tão espontânea e natural que deixa entender as razões pelas quais nem Bush antes nem Obama depois tiveram a mínima intenção de levantar o sigilo do documento.

Salmān bin ʿAbd al-ʿAzīz Āl Saʿūd
As 28 páginas estão fechadas numa sala do Capitólio, em Washington. Poderão vir a ser reveladas?

Depende. Os relacionamentos entre EUA e Arábia são definidos como "complexos", uma forma simpática para dizer que os planos americanos já divergiram daqueles de casa real de Saud.

O acordo sobre o nuclear iraniano foi algo que em Riad ainda não engoliram e é evidente que a Arábia tem a sua própria agenda em relação ao Oriente Médio: uma agenda que até pode tornar-se um sério obstáculo à política de Washington. A situação de casa Saud é difícil: os atritos com os EUA significam também problemas no imediato no Yemen (onde Washington parece intencionada a não intervir) e no futuro com israel, País com o qual foi alcançado um acordo fundamental acerca da estratégia do terror no Oriente Médio e não só, mas um País que nunca terá dúvida acerca de qual o seu aliado mais importante.

O rumo escolhido pela Arábia é extremamente delicado e perigoso: assumir um claro papel de liderança na área médio-oriental e em boa parte do mundo muçulmano (vertente sunita) sem contar com o apoio americano (ou até indo contra os interesses de Washington), numa altura em que os EUA alcançaram a autonomia energética mais parece um bilhete de só ida para o Inferno. Nada que admire perante um rei como Salmān bin ʿAbd al-ʿAzīz Āl Saʿūd (para os amigos: Salman), que já deu prova duma certa instabilidade. Mas depois nem podemos ficar admirados se as tais 28 páginas forem tornadas públicas, porque as coisas mudam. Devagar, mas mudam..


Ipse dixit.

Fontes: The Sun, NBC News, (1, 2) Il Giornale, 60 minutes.



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