As previsões para 2016
Conspiração

As previsões para 2016


A melhor maneira para acabar o ano de 2015?
Com as previsões para 2016!
A pior maneira?
Com as previsões de Bloomberg.

A agência de notícias decidiu que o espumante tem que ficar engasgado nas nossas gargantas, então acaba de publicar A Pessimist's Guide to the World in 2016 ("Um Guia Pessimista para o Mundo de 2016"). Pelo menos o título é honesto.

Vamos espreitar? E vamos.

Cenário 1: Petróleo acima de 100 Dólares

Oriente Médio: tem que ser, nesta altura é a zona mais quente do planeta. Previsões? As tensões podem explodir, elevando o preço do petróleo acima de 100 Dólares por barril, com consequências desastrosas para as nossas economias.

Na verdade é exactamente o contrário daquilo que vimos até agora: a guerra na Síria e no Iraque não influencia o preço do crude, que nesta altura é determinado por razões meramente políticas. Até existirem problemas entre Rússia e mundo ocidental, é provável que o preço permaneça baixo, com boa paz de Bloomberg.

Mas o cenário da agência é um pouco mais complexo e prevê que o Estado Islâmico lance ataque contras as infraestruturas petrolíferas de todo o Oriente Médio, Arábia Saudita incluída. Um pouco como o cão que morde a mão do dono. Se for isso que acreditam os de Bloomberg...

Cenário 2: Reino Unido fora da União Europeia

Bloomberg acha possível que no Reino Unido David Cameron possa antecipar o referendo para sair da União e perdê-lo, saindo assim da UE. Só não entendo porque este cenário entre num Guia Pessimista...

Cenário 3: Os hackers!

Bloomberg especula que hackers russos podem aliar-se com os do Irão para atacar bancos ocidentais, criando o caos na Finança internacional. Só uma mente simples pode esperar uma coisa destas: uma mente que não entende quem controla este tipo de hackers e como funcionam os relacionamentos entre a Finança global, Rússia incluída. Bloomberg entende isso, e muito bem, portanto poderia evitar estes delírios.

Cenário 4: A UE colapsa

Uma série de ataques em algumas cidades europeias podem ditar o fim do acordo de Schengen: voltam as fronteiras. E com elas a UE acaba.

Pormenor: a União Europeia não é apenas o acordo de Schengen. E as Mentes Pensantes de Bruxelas não vão desistir do projecto deles só por causa de algumas centenas de cidadãos mortos.

Todavia, há algo não dito nesta previsão: a chancelera alemã Angela Merkel arrisca muito com os imigrantes e está a perder o apoio interno. Isso poderia obrigar a rever os equilíbrios das forças da União ao longo do próximo ano, também porque ao mesmo tempo a vaga anti-austeridade monta cada vez mais.

Cenário 5: israel contra o Irão

Tel Avive, sempre segundo Bloomberg, pode atacar as centrais nucleares do Irão: desta forma, o
acordo entre Terão e os Estados Unidos poderia saltar. Netanyhau poderia explorar a "distracção" provocada pela eleições americanas?

Pessoalmente duvido que isso aconteça: Tel Avive está empenhada numa outra cruzada, aquela do Isis, e até esta acabar é difícil que arrisque mais. Uma acção contra o Irão significaria também algo dirigido contra a Rússia e o relacionamento entre Moscovo e israel não é tão linear como pode parecer (proximamente falaremos disso, é um assunto que bem merece).

Tel Avive gosta de apresentar-se como "vítima" dos ataques árabes: agora a grande ameaça foi posta sob controle pelo principal aliado, Washington. Atacar o Irão significaria decretar a falência de toda a diplomacia americana neste contexto. Não que Netanyhau não tenha a inconsciência para fazer isso, mas deve haver alguém um pouco mais pragmático ao seu lado.

Cenário 6: A Rússia na Síria

E se Vladimir Putin conseguisse colocar Washington num canto, enquanto promove na Síria uma solução com um regime favorável a Moscovo?

De todas as previsões até aqui apresentadas, esta parece aquela que tem mais possibilidade de concretizar-se. A descida em campo das forças militares russas foi feita ao lado do regime Sírio: e se os soldados de Damasco conseguiram reconquistar boa parte do território do Isis isso, não foi de certeza com o apoio ocidental (perguntem à Turquia). É óbvio que Moscovo quer manter a Síria na órbita xiita e na sua órbita também.

Sobra o problema dos terroristas "moderados" (sic!) que combatem o regime de Bassad. É aqui que pode ser jogado o futuro: um regime post-Bassad sempre ligado aos Russos, ou mais simplesmente um regime ainda com Bassad mas com traços fortemente democráticos. A verdade é que qualquer cenário que não contemple a participação directa de Washington seria um duro golpe para a política exterior dos EUA. E uma vitória de Putin.

Cenário 7: O clima

Poderia faltar? Claro que não. Apesar dos acordos de Paris, o clima não muda a tendência e o planeta aquece, aquece, aquece... Isso diz Bloomberg.

Cenário 8: O Brasil!

Um inteiro cenário dedicado ao Brasil! Nada mal, não é? A previsão de Bloomberg aponta para um possível impeachment da Presidente Dilma, um aumento dos protestos e, como resultado final, um País ingovernável. Ficou de fora só a crise económica e um aspecto talvez ainda mais significativo: não é apenas o Brasil em crise mas é toda a América Latina que atravessa uma altura complicada. O resultado das eleições na Argentina, na Venezuela, a viragem do Chile...

Mas ficamos com o Brasil: então, Leitores brasileiros, o Vosso País perto de explodir? Bah...

Cenário 9: Trump ganha

E a propósito de "bah". Admitimos: Donald Trump é...bah, difícil defini-lo sem tornar-se ordinário.

O problema é que também Hillary Clinton é...bah. E não sei quais dos dois bah for o pior.

Sem dúvida, Hillary sabe como apresentar-se e terá ao seu lado toda a potente máquina da propaganda democrata (a mesma que conseguiu vender Barack Yes We Can Obama como o começo duma Nova Era), mas temos ideia do que passa pela cabeça da senhora Clinton? Aconselho informar-se. A diferença entre os dois é que um é um sujeito com problemas bastante evidentes, a outra é uma psicopata disfarçada.

Cenário 10: China com problemas.

Segundo Bloomberg, a economia chinesa pode abrandar até parar ou quase. O problema é que Pequim precisa de crescimento; pelo que, perante as dificuldades económicas, poderiam avançar os militares.

É verdade que a economia chinesa abrandou; é verdade também que Pequim precisa de crescimento, sempre, caso contrário o sistema vai-se abaixo porque foi concebido segundo determinados moldes. (nota pessoal: os muitos que apoiam os BRICS e depois rogam uma economia sem crescimento, não acham existir nenhuma contradicção, pois não? Assim, só como curiosidade...).

As dificuldades que atravessa a China são piores daquelas divulgadas, mas uma avançada dos militares está fora de questão. A "democratização" do sistema chinês não volta atrás, nenhuma das multinacionais que investiram biliões na China iria permitir isso.

Ninguém faz notar que o preço baixo do petróleo evita que a crise chinesa assuma proporções preocupantes? Esquisito, alguém deveria já ter realçado isso porque a China é um enorme importador de crude. A razão é simples: uma (pesada) crise chinesa seria uma catástrofe em Wall Street. Mas tranquilos, isso não aparece nas páginas de Bloomberg...

Resumindo...

Até aqui, como afirmado, as pessimistas previsões da agência de notícias.

Que poderia ter-se esforçado um pouco mais, apesar de na ficha técnica informar que as citadas previsões foram elaboradas tendo como base entrevistas com dezenas de ex e actuais diplomatas, economistas, investidores, estrategistas políticos e consultores de segurança; e que os cenários foram analisados e classificados por 119 economistas. Wow...119! Poderiam ter feito 120, mas ok, tudo bem.

Ao lado destes génios todos trabalhou a NightBerg, empresa de pesquisa macro global independente que como partner e investidor tem a Pia Capital Management. Empresa que, segundo a U.S. Security and Exchange Commission, é inactiva desde 2012. E cujo chefe é Christopher Pia, já condenado em 2010 ao pagamento de 1 milhão de Dólares por manipulação dos preços do mercado.
Enfim, uma garantia.

Hipóteses, cenários, previsões, tudo em molho negativo.
É o caso para ficarmos preocupados? Claro que não. Em boa verdade, muito daquilo que marcou o ano de 2015 não tinha sido previsto, não de forma oficial: Charlie Hebdo, a guerra na Ucrânia, os refugiados... de certeza alguém "prevê" o que acontecerá ao longo do próximo ano, mas estas são coisas que não saem numa agência de notícias qualquer, nem se o nome dela for Bloomberg.

Fiquem bem e evitem preocupações.
Como dizia Aristóteles: 
Se não houver uma solução, porque te preocupas?
Se houver uma solução, porque te preocupas?

 Bom Ano Para Todos os Leitores

(tanto para adiantar o trabalho)

Ipse dixit.

Fontes: no texto.



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